Investimento
mais rentável, sem maior risco associado? Não existe
Volatilidade é uma medida estatística da dispersão do
retorno de determinado ativo ou índice de mercado. Em outras palavras, a
flutuação dos preços para cima e para baixo. Aqui entre nós, não temos nenhum
problema com as flutuações “para cima”. O problema é quando os preços flutuam
“para baixo”.
Aprendemos, com as finanças comportamentais, que a dor
das perdas, assim percebidas as flutuações negativas, é muito maior do que o
prazer dos ganhos, assim percebidas as flutuações positivas.
Interessante lembrar que a mera flutuação do preço não
representa efetivamente uma perda ou ganho, que só se materializa quando
decidimos vender, sair da posição. Curiosamente, tendemos a realizar o
prejuízo, com receio de perder mais, mas não realizamos o lucro, achando que os
ganhos futuros serão maiores e para sempre. Só mesmo a psicologia econômica
para explicar tal comportamento.
A volatilidade é uma característica de investimentos mais arriscados, faz parte da
natureza desses ativos. Esperamos ganhar mais investindo em ações exatamente em
razão do risco e de maior incerteza que somos desafiados a aceitar.
A lógica é a mesma quando investimos em títulos de
crédito de empresas, menos sólidas, com classificação de risco menos favorável,
muitas vezes sem garantia, cobrando maior retorno pelo risco sobre o capital
investido. Ou quando investimos em ativos de longo prazo, com juros prefixados,
que “perdem” quando a taxa de juros sobe.
Nossos
investimentos, mesmo e particularmente os de longo prazo, são afetados por
variáveis de curto prazo que impactam fortemente os preços dos ativos. A enorme
incerteza que cercou as eleições presidenciais, por exemplo, é o mais recente
exemplo de como os preços podem oscilar, para cima e para baixo.
Nas últimas semanas, o índice da
Bolsa das principais ações negociadas no mercado flutuou fortemente. O real se
valorizou perante o dólar e outras moedas estrangeiras, depois de longo e
acentuado período de desvalorização. Os juros de longo prazo, que haviam subido
bastante, estão voltando ao patamar de semanas atrás, enquanto a taxa de curto
prazo, a Selic, permanece impávida, em 6,5% ao ano, como se nada estivesse
acontecendo.
A
disposição de suportar a volatilidade tende a recompensar o investidor
disciplinado, e, muitas vezes, as maiores recompensas acontecem logo após
períodos de alta turbulência. É tolice tentar adivinhar exatamente quando esses
momentos de volatilidade começam e terminam. Sejamos prudentes diante de
previsões espetaculares.
Para
suportar as flutuações adversas nos preços, no curto prazo, devemos lembrar que
investimos por anos, por décadas, e não por semanas ou meses. Os objetivos de
curto prazo, se corretamente investidos em ativos conservadores de taxa
pós-fixada, não serão impactados pela volatilidade dos demais ativos.
Não
podemos esquecer que risco não é sinônimo de perda, mais adequado dizer
sinônimo de incerteza, lembrando que toda incerteza carrega riscos e
oportunidades, que precisam ser analisadas e avaliadas dentro de um contexto
mais amplo, o contexto particular de cada um de nós, o mais importante de
todos, a despeito de prognósticos especulativos.
Se nossa carteira de investimento
estiver bem estruturada, adequada aos nossos objetivos e horizonte de tempo,
respeitando nossa capacidade e disposição de suportar riscos, é essencial
manter a disciplina em tempos voláteis. A única maneira de o mercado nos
recompensar, no longo prazo, é estarmos dispostos a tolerar suas
excentricidades.
Marcia Dessen - planejadora financeira CFP (“Certified Financial
Planner”), autora de “Finanças Pessoais: O Que Fazer com Meu Dinheiro.
Fonte: coluna jornal FSP