Um estudo feito por pesquisador
da universidade de Columbia e publicado pelo American Press Institute
demonstrou que informações falsas que "viralizam" tendem a circular
três vezes mais que as informações verdadeiras que tentam corrigi-las. O estudo
tomou por base o Twitter e analisou cerca de 100 mil publicações.
Um dos casos analisados foi o
boato nos Estados Unidos de que o vírus Ebola teria sofrido uma mutação e se
tornado transmissível a longas distâncias pelo ar. A cada 3 tuítes publicados repetindo
o boato, apenas um o desmentia.
Outro caso diz respeito a tema
político. Em 2014 circulou boato de que o plano de saúde pública implantado
pelo presidente Barack Obama iria "destruir 2 milhões de empregos".
A fonte da informação era uma
leitura falsa de um relatório do Congresso dos EUA. No contexto político
acalorado do momento, o efeito "viral" foi ainda mais forte. Apenas 1
a cada 9 tuítes publicados com a informação falsa tentava desmentir o erro.
O estudo também demonstra que a
ideia de que "mentira tem perna curta" é válida. Depois do pico
inicial de desinformação, a circulação da informação correta começa a alcançar
a informação falsa.
Nos casos estudados, em poucas
semanas a informação falsa foi superada, até perder totalmente o fôlego e desaparecer
das redes. Essa dinâmica é aguçada especialmente nas crises.
No Brasil, na semana anterior à
votação do impeachment na Câmara, houve um surto de notícias falsas na rede. Ao
menos três delas chegaram aos "trending topics". Na semana seguinte à
votação essas mesmas três notícias falsas haviam praticamente desaparecido.
Boa parte das pessoas não só se
informa por redes sociais, mas difunde informações. Especialmente nas crises,
as pessoas se tornam "veículos" de disseminação de boatos.
Muitos deles são forjados por
marqueteiros políticos e oportunistas que se aproveitam de momentos de
convulsão social —pois neles as pessoas tendem a se conectar mais para espalhar
conteúdos políticos falsos.
O grupo terrorista Daech (que
se autodenomina "Estado Islâmico") é especialista nesse tipo de ação.
Importante assim o apoio à
prática jornalística chamada de "checagem de fatos" (fact-checking).
De 2008 a 2012 o número de matérias com fact-checking cresceu 300% nos EUA. Com
a candidatura de Donald Trump, outro mestre em boatos, a prática vem crescendo
ainda mais. No Brasil, além da imprensa tradicional, há iniciativas novas de
fact-checking como o Truco da Agência Publica e o portal Aos Fatos.
Nesse contexto, é fundamental
também investir em media literacy (educação para a mídia). Aprender a
questionar fatos e fontes. E não repassar tudo que chega e parece
"urgente".
Em outras palavras, o post que
você acabou de compartilhar pode ser não apenas mentira, mas informação forjada
por marqueteiros de toda sorte.
Ronaldo Lemos - advogado, diretor do
Instituto de Tecnologia e Sociedade do Rio de Janeiro (ITSrio.org). Mestre em
direito por Harvard. Pesquisador e representante do MIT Media Lab no
Brasil.
Fonte: coluna jornal FSP