Brincando com a democracia
Quando funciona,
a democracia é preciosa. Participação popular nos rumos do país através de seus
representantes dá legitimidade às decisões, e garante que os interesses de
todos sejam considerados e que o tecido social não esgarce. Arbitrariedades e
perseguições são muito mais comuns em regimes autoritários, mesmo quando os
déspotas são esclarecidos.
A democracia é
preciosa, mas é frágil. A própria história brasileira deixa isso claro. De 1930
para cá, nós brasileiros vivemos um em cada três anos sob o jugo de ditaduras.
Somando–se o período da ditadura de Getúlio Vargas com a ditadura militar foram
mais de três décadas e meia sem democracia. Cada uma das ditaduras durou mais
de uma década. Esta é a regra na experiência internacional. A ideia utópica de
golpes, militares ou não, que destituem lideranças democráticas corruptas e
prometem convocar eleições rapidamente, infelizmente não se confirma na
história. Uma vez no poder, eles encontram formas, desculpas e razões para se
perpetuarem, tornando-se ditadores.
Aí é que mora o
perigo. Dois pilares essenciais de qualquer regime democrático são as pessoas
se sentirem representadas por seus líderes e que haja uma separação entre os
poderes, para garantir que nenhum líder abuse de suas atribuições.
Nenhum destes pilares
está presente no Brasil de hoje. A sensação de não ser representado por seus
governantes começou a aflorar em metade dos brasileiros há cerca de uma década,
quando o então presidente Lula começou a inflamar a divisão para se defender
dos escândalos de corrupção do Mensalão. Segundo ele, não havia corrupção, mas
sim uma campanha das elites e da classe média contra as conquistas dos mais
pobres. A polarização política rachou o país e criou a percepção de que quem
estivesse no poder governaria exclusivamente para um dos grupos. A partir daí,
tanto no governo Dilma como no governo Temer, muitos passaram a se opor a
medidas que tentavam colocar a economia brasileira nos eixos, a acreditar que
medidas daquele grupo político necessariamente lhes seriam contrárias, sem se
dar ao trabalho de analisar o conteúdo de tais medidas.
A democracia é preciosa, mas é
frágil.
A própria história brasileira
deixa isso claro.
Para piorar, à
medida que a Lava-Jato avança, a quantidade, gravidade e abrangência dos
escândalos de corrupção não pararam de aumentar. Independentemente de partido
político, presidentes, governadores, prefeitos e legisladores em sua quase
totalidade não representam seus eleitores, apenas abusam de seus cargos em
busca de benefícios próprios.
Ficou claro que
a separação entre os poderes inexiste na prática. Temos apenas o corporativismo
de uma cleptocracia que assalta o Estado e os brasileiros. Ministros do TSE e
do STF “julgam” aqueles que os indicaram aos cargos e congressistas recusam-se
a cassar mandatos de outros congressistas comprovadamente envolvidos em
corrupção. O presidente do TSE, o Ministro Gilmar Mendes, chega ao extremo de
defender que o Tribunal não tem competência para julgar políticos eleitos que
cometeram crimes eleitorais. Para que, então, existe o TSE, consumindo por ano
R$2 bilhões de recursos públicos?
Precisamos,
urgentemente, parar de inflamar a polarização política, punir todos os corruptos
e restaurar a separação entre os poderes, proibindo por lei indicações
políticas ao STF, TSE, TCU e outros órgãos de fiscalização para garantir a
independência necessária para exercer suas funções.
Se não fizerem
isso, nossos líderes estarão colocando a eles mesmos e à própria democracia em
risco, como o atentado a um legislador republicano por um extremista democrata
nos EUA e o apoio crescente à ideia de um golpe militar no Brasil deixam claro.
Xô, Satanás!
Ricardo Amorim - CEO da Ricam Consultoria,
âncora no programa Manhattan Connection at Globonews