O futuro do trabalho: o dilema
entre home office e escritório
Se empresas conseguirem se adaptar e aproveitar o avanço da tecnologia,
poderemos ter o melhor de cada formato
Com o fim da pandemia, gigantes
da tecnologia como Google, Facebook, Apple, Amazon e Twitter já exigem o retorno ao escritório.
Ao mesmo tempo, muitos
trabalhadores que se acostumaram com os benefícios do home office não querem ceder. Então, como
será o futuro do trabalho?
O fato é que muitos tiveram que
voltar a comparecer no escritório e já há uma diferença entre o que é desejado
e os dias em que muitos colaboradores efetivamente estão trabalhando de casa.
De acordo com o levantamento do WFH Research, os
trabalhadores no Brasil reportam que em média trabalham 1,7 dia em casa
enquanto desejariam mais tempo: 2,3 dias.
Além disso, eles estariam dispostos a
abrir mão de cerca de 7 a 8% do salário pela opção de trabalhar no modelo
híbrido, com valores ainda maiores para mulheres, pessoas com filhos pequenos e
pessoas com deslocamentos mais longos.
Ainda de acordo com a pesquisa,
os principais benefícios de trabalhar em casa são: evitar o deslocamento,
redução de custos com gasolina ou almoço e flexibilidade sobre o horário de
trabalho.
Em especial, o deslocamento, muitas vezes demorado e estressante,
têm impactos negativos no bem-estar dos trabalhadores.
Ao mesmo tempo, muitos também reconhecem que as interações presenciais são
benéficas, como a socialização com os colegas e os momentos de colaboração em
equipes.
Os benefícios não são apenas
para trabalhadores. O home office teve um efeito positivo na produtividade, na
perspectiva das empresas, segundo uma pesquisa do FGV Ibre.
Entre 2021 e 2022, a proporção de empresas que perceberam aumento da
produtividade com o home office subiu de 21,6% para 30%.
Ao mesmo tempo, a
proporção de empresas que perceberam redução da produtividade com o home office
caiu de 19,4% para 10,2%.
Apesar desses ganhos ainda há queixas: o alto número de reuniões virtuais e a dificuldade em
mentorear colaboradores em início de carreira.
O que os dados revelam é que o
trabalho remoto pode trazer benefícios tanto para os trabalhadores quanto para
as empresas, como maior flexibilidade, satisfação e produtividade.
No entanto,
também traz desafios que precisam ser enfrentados, como a menor interação
social, a dificuldade de separar o trabalho da vida pessoal, a perda de
oportunidades de aprendizado e desenvolvimento profissional.
Diante desse cenário, é provável que o futuro do trabalho de escritório
seja no formato híbrido, ou seja, uma combinação entre o trabalho remoto e o
presencial.
Esse modelo pode aproveitar os benefícios e mitigar os custos do
trabalho integralmente remoto, desde que seja bem planejado e implementado
pelas empresas.
Para isso, é preciso levar em conta as necessidades dos
trabalhadores, as características das tarefas, as condições de infraestrutura e
tecnologia e as normas que regem o trabalho.
O regime híbrido de trabalho
requer uma mudança cultural nas organizações.
Os gestores precisam deixar de
focar em horas na frente no computador e passar a avaliar mais os resultados e
reduzir as milhares de reuniões e interrupções inúteis.
Também é necessário que
os momentos de encontro sejam voltados para os projetos que demandam mais
cooperação e conhecimento compartilhado.
Sem essas adaptações, será difícil
para as empresas aproveitarem dos ganhos de produtividade que a tecnologia e o
trabalho remoto permitem.
Assim, o trabalho a distância
não é uma panaceia nem um pesadelo. Se as empresas conseguirem se adaptar e
aproveitar o avanço da tecnologia, ao invés de lutarem contra os funcionários,
poderemos ter o melhor de cada formato.
Mas só o tempo dirá qual será o
resultado de todas essas mudanças na dinâmica do trabalho.
DEBORAH BIZARRIA - economista pela UFPE, estudou economia comportamental na
Warwick University (Reino Unido); evangélica e coordenadora de Políticas
Públicas do Livres