Cientistas afirmam que durante as
fases da vida, em geral, somos menos felizes entre os 40 e 50 anos
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Recentemente, dei um curso sobre felicidade na UFRJ. Uma
das discussões mais interessantes foi sobre estudos de economistas realizados
em 80 países, com mais de dois milhões de pessoas.
Eles encontraram um padrão de felicidade constante: as
pessoas mais felizes são as mais jovens e as mais velhas, e as menos felizes
são as que estão entre 40 e 50 anos. Os resultados mostraram uma "curva da
felicidade", no formato da letra U, com o seu ponto mais baixo em torno
dos 45 anos. A felicidade é maior no início da vida, diminui ao longo dos anos
e, depois dos 50, passa a crescer.
Os dados revelaram uma realidade que também encontrei
entre as brasileiras que tenho pesquisado. As que estão entre 40 e 50 anos são
as que mais sofrem com o envelhecimento, como uma atriz de 45 anos:
"A minha maior crise foi aos 40. Entrei em pânico
por estar ficando velha. Não sei se faço plástica, coloco botox, se posso usar
minissaia, biquíni, cabelo comprido. É a fase do 'será que eu posso?'. Sou uma
mulher invisível, uma 'nem, nem': nem jovem, nem velha."
Mas tudo melhora depois dos 50 anos e a curva da
felicidade começa a subir, como mostra uma médica de 62 anos:
"As perdas, os sofrimentos e os problemas são
inevitáveis, mas aprendi a lidar com eles com mais maturidade, equilíbrio e bom
humor. Dou muito valor ao meu tempo e não o desperdiço com bobagens e com
pessoas que não merecem. Mais jovem, eu me preocupava com a opinião dos outros,
e precisava cuidar de todo mundo. Aprendi que eu preciso cuidar em primeiro
lugar de mim mesma e buscar um significado maior para a minha vida. Tenho novos
projetos: estou estudando filosofia, escrevendo minhas memórias e publicando um
livro de poesias."
Ela disse: "Não consigo compreender porque demorei
tanto tempo para descobrir uma coisa tão simples: a melhor rima para felicidade
é liberdade. A minha receita para uma vida feliz é muito simples: ter projetos
de vida, ser eu mesma, não me comparar com outras mulheres, dizer não para tudo
o que não quero na minha vida. Dar muitas risadas e, principalmente, rir de mim
mesma, tem sido o meu melhor remédio".
Será que precisamos esperar os 60 anos para descobrir
que liberdade é a melhor rima para felicidade?
Mirian
Goldenberg -
antropóloga e professora da Universidade Federal do Rio de Janeiro. É autora de
'Coroas: corpo, envelhecimento, casamento e infidelidade'.
Fonte:
coluna jornal FSP