Descobri a cura para o
soluço!
Funciona na hora,
é de graça e você nem precisa ser neurocientista
Eu
descobri de que cérebros diferentes são feitos, provei que o cérebro humano não
é especial, matei a charada de por que alguns cérebros são muito mais cheios de
convoluções do que outros, mostrei que o cérebro consome de canudinho toda a
energia que pode em vez de receber o que precisa sob demanda, mas acho que vou
ser lembrada mesmo é por esta descoberta aqui: como curar o soluço.
Prometo
que eu vou contar nesta coluna mesmo, e sem delongas, para ganhar mais cliques.
Mas, para você apreciar a descoberta e usá-la direito para matar o soluço de
uma vez só e sem erro, ajuda entender como a coisa funciona. Vamos lá.
O
soluço é uma inspiração fora de hora, profunda, súbita e aberrante no contexto
da modulação cíclica, periódica, oscilatória e rítmica da inspiração.
Todos
esses adjetivos, assim mesmo, para reforçar que a inspiração é uma sequência de
ondas cadenciadas, geradas pelo circuito interno de um núcleo pequenininho, mas
fundamental, do cérebro, que tem um nome difícil com uma história divertida.
O
núcleo se chama pré-Bötzinger, alcunhado em honra ao vinho que estava na mesa,
porque o seu descobridor sacou, ao fazer um brinde, que se ele não nomeasse o
pedaço do cérebro ali mesmo, naquela hora, seu rival ia tomar a descoberta.
Neurociência também tem dessas histórias.
Enfim.
Isso é a inspiração. Enquanto a gente está sentado quietinho sem fazer grandes
coisas, controlar a inspiração basta para manter a gente vivo: o ar entra nos
pulmões na marra, com a gente fazendo força para expandir o tórax, mas sai
passivamente, sozinho, por elasticidade, assim que o diafragma relaxa.
Estando
quietos, a expiração é o que acontece quando a gente para de inspirar.
Mas
a gente também sabe expirar na marra, que é o que a gente faz quando começa a
se mexer e o ritmo normal da inspiração não basta para limpar o gás carbônico
produzido e manter o corpo oxigenado.
Quem controla a expiração é um núcleo
separado do cérebro, o parafacial, que freia os neurônios do pré-Bötzinger e
portanto impede a inspiração.
Já
sacou para onde eu estou indo com isso?
Pois
bem.
É raro eu ter soluços, mas naquele dia a rodelinha de pimenta jalapeño do
café da manhã do nosso destino habitual me pegou. Felizmente, a Neurocientista
de Plantão estava lá também (sou eu mesma) e sacou que seus conhecimentos
talvez finalmente tivessem utilidade prática: se o soluço é uma inspiração fora
de hora, mas ainda assim uma inspiração comandada pelo pré-Bötzinger, então...
se eu expirar forçadamente, fazendo a expiração durar o máximo possível... o
meu núcleo parafacial deveria manter o pré-Bötzinger freado... e quem sabe isso
bastaria para dar reset no soluço também?
Pois
não só funcionou no ato, como dias depois eu curei instantaneamente o soluço de
uma amiga.
Ainda não funcionou com meu marido, mas acho que é porque o homem é
ansioso e não soube expirar longamente, como a teoria diz.
Então:
para curar seu soluço, encha o peito de ar, e depois solte o ar de-va-ga-ri-nho
e PELA BOCA, porque é assim que o núcleo parafacial assume o controle da
situação e, pelo jeito, resseta o pré-Bötzinger, que para de ser inconveniente.
Quer
ser meu cobaia? Testar meu método é de graça, apenas me conte depois se
funcionou ou não!
SUZANA HERCULANO-HOUZEL - bióloga e neurocientista da Universidade
Vanderbilt (EUA)