O Pisa e o diagnóstico do ensino
de matemática no Brasil
Na 65ª posição, continuamos entre os 20 piores países do mundo em
matemática.
O Ministério da Educação divulgou nesta terça (5) os resultados da edição
2022 do Programa Internacional de Avaliação de Estudantes (Pisa), que, a cada 3-4 anos, mede o aproveitamento em matemática, leitura e ciências de jovens de 15 anos em mais de
80 países.
Nas três áreas, as pontuações brasileiras tiveram pequenos
decréscimos, estatisticamente não significativos.
Em matemática, que era o foco
desta edição, alcançamos 379 pontos ante 384 na edição 2018, a mais recente.
É sabido que a pandemia teve um impacto nocivo no cenário da
educação em todo o mundo, especialmente em matemática.
Aliás, isso se refletiu
em quedas abruptas das pontuações no Pisa, acentuadamente entre os países mais
avançados.
No caso do Brasil, com grande parte da população em situação de
vulnerabilidade socioeconômica e um sistema educacional frágil, especialmente
na rede pública, que atende a maioria da população, havia fortes razões para
temer um resultado ainda pior.
Mas não há muito o que comemorar: na 65a posição,
continuamos entre os 20 piores países do mundo em matemática.
E o relatório
mostra que 73% dos nossos jovens ficam abaixo do nível 2 do Pisa, considerado
necessário para o exercício da cidadania: na OCDE, que reúne os países mais
avançados, esse percentual é de 31%.
Estudo realizado recentemente pelo Iede (Interdisciplinaridade e
Evidências no Debate Educacional), em parceria técnica com o Impa (Instituto de
Matemática Pura e Aplicada), traça um diagnóstico contundente do ensino de
matemática no Brasil, com base em dados concretos.
Ele constata que aos 15 anos os nossos jovens estão, em média,
três anos atrasados em relação a seus pares nos países desenvolvidos.
O atraso
é ainda mais gritante entre as escolas que atendem a população de baixa renda.
Aliás, são escassos os casos de estudantes de baixa renda que alcançam
resultados satisfatórios no Pisa.
Mas as desigualdades vão além do nível
socioeconômico: são fatores igualmente importantes a cor/raça e, em menor grau,
o gênero.
Mas o estudo do Iede também oferece algumas pistas positivas,
em particular realçando o papel das olimpíadas do conhecimento, como a Obmep
(Olimpíada Brasileira de Matemática das Escolas Públicas), organizada
anualmente pelo Impa.
As escolas que participam ativamente na Obmep têm melhores
resultados em avaliações como o Saeb e o Enem e apresentam taxas mais baixas de reprovação, além de terem
porcentagem maior de professores com formação adequada ao ensino da disciplina.
MARCELO VIANA - diretor-geral do Instituto de Matemática Pura e Aplicada,
ganhador do Prêmio Louis D., do Institut de France.