Saúde Suplementar no Brasil: desafios financeiros e de
atendimento
O setor de saúde suplementar no Brasil passa por um ciclo de
crescimento constante, que, apesar de positivo, traz à tona desafios
financeiros e operacionais complexos.
Dados divulgados pela Agência Nacional de
Saúde Suplementar (ANS) e pela Associação Brasileira de Planos de Saúde
(ABRAMGE) indicam que, enquanto o número de beneficiários continua a aumentar,
as operadoras lutam para manter a sustentabilidade em um cenário de alta
sinistralidade e crescente insatisfação dos usuários.
De acordo com o relatório Panorama – Saúde Suplementar da
ANS, o número de beneficiários de planos médico-hospitalares alcançou 51
milhões em junho de 2024, um crescimento de 1,48% em relação ao mesmo período
do ano anterior.
Já os planos exclusivamente odontológicos experimentaram um
aumento ainda mais expressivo, com 33,5 milhões de beneficiários – uma alta de
7,8%.
A previsão é de que o mercado odontológico atinja 34,8 milhões de
beneficiários até o final de 2024.
Expansão dos planos coletivos e
declínio dos individuais
O
crescimento dos planos de saúde foi impulsionado principalmente pelos planos
coletivos empresariais, que registraram um aumento de 2,8%, representando cerca
de 71,1% de todos os beneficiários em planos médico-hospitalares no país.
Esse
segmento adicionou 988 mil novos beneficiários entre junho de 2023 e junho de
2024, uma expansão significativa atribuída ao aumento da formalização do
mercado de trabalho.
Os
dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) mostram que foram
geradas 580,9 mil novas vagas de emprego formal no segundo trimestre de 2024.
Este crescimento no emprego formal impacta diretamente a adesão aos planos
coletivos empresariais, que se destacam pela relação custo-benefício para os
trabalhadores e empresas.
Por
outro lado, os planos coletivos por adesão e os planos individuais enfrentaram
uma retração.
Os coletivos por adesão perderam 3,4% dos beneficiários, enquanto
os planos individuais tiveram uma queda de 0,7%.
Esse declínio reflete uma
mudança no comportamento dos consumidores, que têm preferido os planos
empresariais devido a seus preços competitivos e maior abrangência de
cobertura.
Aumento da sinistralidade
preocupa o setor
Embora o crescimento no número de beneficiários seja positivo, o
setor de saúde suplementar enfrenta um desafio crescente com as altas taxas de
sinistralidade.
Segundo o Caderno ABRAMGE, a sinistralidade dos planos
médico-hospitalares no segundo trimestre de 2024 foi de 85,1%.
Embora essa taxa
tenha caído 3,6 pontos percentuais em relação ao mesmo período do ano anterior,
ainda representa uma preocupação para a sustentabilidade das operadoras.
A
sinistralidade reflete a proporção da receita com mensalidades que é utilizada
para custear os atendimentos de saúde dos beneficiários.
Ou seja, de cada R$
100 arrecadados, R$ 85,10 são destinados a cobrir despesas médico-hospitalares,
o que limita a capacidade das operadoras de investir em melhorias e expansão de
serviços.
No
segundo trimestre de 2024, as receitas de contraprestações das operadoras
médico-hospitalares somaram R$ 75,2 bilhões, um aumento de 13,1% em comparação
ao ano anterior.
No entanto, as despesas assistenciais também cresceram,
alcançando R$ 64 bilhões, um aumento de 8,5% no mesmo período.
O resultado
operacional das operadoras, por sua vez, foi de apenas R$ 600 milhões,
evidenciando a dificuldade do setor em manter a margem operacional, que ficou
em 1,6%.
Mercado odontológico em
expansão
O
segmento de planos exclusivamente odontológicos manteve sua trajetória de
crescimento acelerado em 2024.
De acordo com a ABRAMGE, o mercado odontológico
adicionou 2,4 milhões de novos beneficiários em 12 meses, elevando o total para
33,5 milhões até junho de 2024.
Este é um dos segmentos mais dinâmicos da saúde
suplementar, com previsão de atingir 34,8 milhões de beneficiários até
dezembro.
O
crescimento do setor odontológico foi impulsionado, principalmente, pelos
planos coletivos empresariais, que representaram 68,2% das novas adesões entre
julho de 2023 e junho de 2024.
Já os planos coletivos por adesão cresceram
27,2% no mesmo período, adicionando 810 mil novos beneficiários.
Em termos de
receita, o faturamento do setor odontológico também cresceu. O ticket médio
mensal dos planos odontológicos foi de R$ 18,85 em junho de 2024, um aumento de
0,7% em comparação ao ano anterior.
Reclamações crescem e revelam
insatisfação
Outro
ponto de atenção no setor de saúde suplementar é o aumento no número de
reclamações registradas pelos consumidores.
A ANS contabilizou mais de 161 mil
reclamações entre janeiro e maio de 2024, um número superior ao registrado em
anos anteriores.
A maior parte das queixas está relacionada à cobertura
assistencial, refletindo a insatisfação dos usuários com a negativa de
atendimentos e procedimentos por parte das operadoras.
O
Índice Geral de Reclamações (IGR), que mede o número de queixas a cada 100 mil
beneficiários, subiu para 60,6 em planos médico-hospitalares, evidenciando a
necessidade de uma revisão nas políticas de atendimento e na transparência
sobre os serviços cobertos.
Desempenho econômico-financeiro
e sustentabilidade
No
segundo trimestre de 2024, as operadoras de planos médico-hospitalares
registraram uma receita de contraprestação de R$ 75,2 bilhões, um aumento de
13,1% em relação ao mesmo período de 2023.
No entanto, as despesas
assistenciais continuam elevadas, chegando a R$ 64 bilhões, um aumento de 8,5%
em 12 meses.
O resultado operacional no período foi de apenas R$ 600 milhões,
totalizando R$ 2,4 bilhões no ano, com uma margem operacional modesta de 1,6%.
As
operadoras da modalidade filantrópica tiveram o maior crescimento percentual no
número de beneficiários, com alta de 9,1% no período, enquanto as medicinas de
grupo cresceram 2,6% e as cooperativas médicas, 0,7%.
Esses números reforçam a
importância da diversidade de modelos de negócio no setor de saúde suplementar.
O
cenário da saúde suplementar no Brasil em 2024 é marcado por um crescimento
expressivo no número de beneficiários e na receita do setor.
No entanto, o
aumento das reclamações, a alta sinistralidade e os desafios financeiros
continuam sendo questões centrais para a sustentabilidade das operadoras.
A
capacidade de equilibrar a prestação de serviços com a manutenção da saúde
financeira será determinante para o futuro desse setor, que precisa continuar
evoluindo para atender à crescente demanda dos brasileiros por assistência
médica e odontológica.
Fontes: ANS – Panorama Saúde Suplementar (agosto de 2024); ABRAMGE
– Caderno ABRAMGE (2024).