Compulsão
permeia o alcoolismo e mais vícios, como jogos e cigarro
É difícil segurar tanta ansiedade, e muitas
vezes só uma internação pode ajudar a dar uma trégua
Compulsão.
Essa palavra permeia todas as doenças que envolvem vício.
Nunca me esqueço de
que não largava a garrafa enquanto tomava uma no bar. Não deixava o copo nem
perto do vazio e já queria enchê-lo de novo.
Isso é
normal para quem tem uma doença como o alcoolismo. A compulsão fala
sempre mais alto. Tenho uma amiga que se perdeu no jogo.
Ela não conseguia
parar: ganhava e perdia dinheiro. Mas o final sempre era triste, saía com
dívidas enormes.
Também vi,
nesses meus tempos de sobriedade, pessoas que fizeram a cirurgia bariátrica e
trocaram a comida pela bebida.
Se tornaram alcoólatras. Magras e alcoólatras. É
comum.
O mesmo
ocorre com quem fuma demais, às vezes o vício empurra mais cigarros do que a
pessoa gostaria. E ela acorda com gosto de cinzeiro.
Comigo
também já aconteceu com remédio. Queria achar um alívio para além do álcool,
a bebida já não dava mais conta de tanta ansiedade,
e eu exagerava nos ansiolíticos.
Essa compulsão me acompanhou durante muito
tempo. Depois, em sala de AA, fiquei sabendo que essa mistura é uma forma de
acelerar o alcoolismo.
Quando não
bebia (raríssimas ocasiões...), para conseguir me acalmar, tomava remédio mas
não tinha paciência para esperar o efeito.
Então mandava ver mais do que o
médico havia prescrito. Os médicos, aliás, não sabiam o que fazer comigo. E
acredito que muitos ainda desconhecem como lidar com uma alcoólatra.
Há exceções, claro,
mas são poucas.
Nas
consultas o médico me prescrevia a receita e pedia para eu beber menos, como se
isso fosse possível.
Eu saía com várias receitas e ainda com o salvo-conduto de
poder beber. (Era para beber menos, não? Não me diziam para parar de beber.)
Seguia
feliz e contente para o bar, no começo sem os remédios, que ainda existiam
apenas na prescrição recém-adquirida.
Depois o álcool não era suficiente para
me ajudar e eu levava o remédio na bolsa. E aí o círculo vicioso começava.
Tomava umas e não ficava calma, daí entrava com os remédios.
No meu
entendimento, é difícil segurar a compulsão. Muitas vezes só uma internação pode dar uma trégua.
ALICE S. – blog Vida de Alcoólatra