O que temos a aprender com o país
mais inovador do mundo?
Imagine
um país com uma área de 1/6 a do estado de São Paulo e uma população menor do
que a da cidade de São Paulo.
O Fórum Econômico Mundial apontou este país como
o mais inovador do mundo... pela 11ª vez.
Some a isso, 28 ganhadores do Prêmio
Nobel, mais do que qualquer outro país do mundo proporcionalmente ao tamanho da
população. Estou falando da Suíça.
Recentemente,
pude visitá-la, a convite do Turismo na Suíça. Lá, interagi com seu ecossistema
de inovação com uma pergunta na cabeça: o que torna a Suíça o país mais
inovador do mundo?
A resposta curta é que a Suíça tem condições únicas para
atrair e desenvolver os melhores cérebros do mundo, mas como ela consegue fazer
isso?
Para
começo de conversa, ela é a porta de entrada perfeita para testar e desenvolver
produtos para o maior mercado de consumo global: a Europa.
Com quatro idiomas e
culturas distintas em seu pequeno território, ela é um campo de provas perfeito
para produtos e serviços. Quem têm sucesso lá está pronto para ter sucesso em
toda a Europa e no resto do mundo.
Além
disso, a Suíça tem previsibilidade jurídica, estabilidade econômica e
reguladores com a missão de fomentar negócios e o desenvolvimento, não de
fiscalizar empresas para puni-las.
Como
a Suíça criou este ambiente econômico? Uma confluência de fatores.
Sua
neutralidade ajudou a elevá-la a um dos principais centros financeiros globais.
Valorização de pluralidade de pensamento ajudou a construir instituições de
ensino e pesquisa de primeira, atraindo líderes científicos do calibre de Albert
Einstein.
No campo das ciências humanas, vieram de lá a psicologia analítica de
Carl Gustav Jung, a Reforma Protestante de Calvino e Lutero e a filosofia
iluminista de Jean-Jacques Rousseau, por exemplo.
Com tudo isso, a Suíça também
dá a luz a inovações mais corriqueiras, como os melhores relógios e chocolates
do mundo.
Apesar
da importância inegável dos fatores anteriores, se eu tivesse que escolher um
único pilar fundamental para explicar o sucesso da inovação na Suíça, eu
ficaria com o sistema de voto participativo.
Indiretamente, ele criou as
condições para a população suíça entender o valor de uma cultura de inovação
forte no país.
Os suíços sabem que só inovações garantem a melhoria da
qualidade de vida e a elevação da riqueza das pessoas de forma sustentada. Não
há desenvolvimento que se sustente sem um sistema que estimule continuamente a
inovação
Na
Suíça, questões fundamentais são votadas diretamente pelos eleitores, não por
seus representantes.
Com esta responsabilidade, os suíços desenvolveram uma
compreensão de como a economia realmente funciona e uma qualidade de tomada de
decisões que não existe em nenhum outro país.
Toda proposta de um novo gasto
público vem acompanhada de uma especificação de onde virá o aumento de impostos
para bancá-la.
Na Suíça, as pessoas sabem que dinheiro público não brota em
árvores. Recentemente, os suíços rejeitaram um projeto que aumentaria suas
férias em uma semana e outro que reduziria a sua carga horária diária de
trabalho em duas horas.
Por que? Porque sabem que uma redução da carga de
trabalho aumentaria os custos de produção no país, reduzindo sua
competitividade, o que acabaria diminuindo o número de empregos e os salários.
Com este grau de maturidade, decisões que criaram um ecossistema de inovação
que é líder global tornaram-se consequências naturais.
E o sucesso do país em
inovar explica porque ele tem uma renda per capita oito vezes maior do que a
brasileira, a maior do mundo com exceção de Luxemburgo, que tem menos de 600
mil habitantes.
Tive
a oportunidade de ver, na prática e in loco, os resultados de tudo isso a
convite do Switzerland Global Enterprise.
Visitei, por exemplo, o centro de
pesquisa do Instituto Federal de Tecnologia de Zurique (ETH), onde Einstein deu
aulas e desenvolveu suas mais importantes pesquisas.
Lá, encontrei gente de
todo o mundo desenvolvendo, apoiando e financiando projetos que vão da
regeneração do sistema nervoso central ferido a robôs voadores avançados e a
replicação da percepção visual de seres humanos em robôs.
Vi ainda projetos de
robótica autônoma para substituir pessoas em trabalhos perigosos ou repetitivos
em funções de segurança e monitoramento, como os da Ascento Robotics,
desenvolvido no próprio ETH e os da ANYbotics, que já tem até clientes de peso
no Brasil.
Provei também um “peito de frango” produzido apenas com ingredientes
vegetais pela Planted. Pelo gosto e consistência, ninguém diria que não é
frango.
Voltei
ao Brasil com três convicções fortes:
1. As
mudanças na nossa forma de viver, trabalhar e consumir serão muito maiores e
vão acontecer muito rapidamente do que a maioria imagina.
Se você acha que a
vida mudou muito durante a pandemia, espere para ver as mudanças dos próximos
anos;
2. No
Brasil, cada um de nós, cada empresa e o país como um todo precisam estar
prontos para estas transformações o mais rapidamente possível.
As consequências
de ficar de fora delas serão dramáticas e as oportunidades que elas trarão para
quem participar delas serão fantásticas;
3. Uma
maior conexão com o ecossistema suíço de inovação pode ser um ótimo caminho
para acelerar a inovação para nós brasileiros, nossas empresas e nosso país.
RICARDO AMORIM – presidente da Ricam
Consultoria.