A importância das fontes de renda alternativas


Muito se fala sobre a importância da diversificação dos investimento. A mesma lógica deveria valer para as fontes de renda

Antes de qualquer coisa, um recado aos leitores do blog “Você e o Dinheiro”: o blog está de volta… em definitivo! Tivemos um hiato mais ou menos longo (fui “atropelado” por uma série de questões profissionais e pessoais, no decorrer do ano passado), mas estamos de volta, alive and kicking!

Um dos temas que mais deram “pano para a manga” no ano passado foram as alterações em nossa legislação trabalhista. Não vou fazer qualquer comentário ou julgamento sobre se elas são “boas” ou “ruins” para o trabalhador. Do ponto de vista das finanças pessoais, essas questões “macro” são irrelevantes e nós, indivíduos, precisamos “nos virar” com as coisas do jeito que elas são (e não como “deveriam ser”).

Mas, enfim, muitos críticos das reformas trabalhistas falam em “precarização do trabalho”, um discurso que está mais ou menos alinhado com algo que vem repercutindo bastante mundo afora e, em particular, nas economias desenvolvidas, que é a chamada gig economy. A gig economy é uma economia em que uma parte significativa das relações de trabalho existe de forma pontual e efêmera, apenas enquanto aquele serviço está sendo prestado. Na falta de um nome melhor, podemos traduzir como “economia de bicos”, onde a pessoa faz uma coisinha aqui, outra ali… conforme a demanda e sem que haja, necessariamente, aquela continuidade e aquele viés de ascensão que caracteriza uma típica “carreira” profissional.

O ponto é que existem evidências (ainda que anedotais) de que o modelo tradicional de trabalho está em declínio e, do ponto de vista da “gestão de riscos pessoais”, não é mais uma coisa interessante que a pessoa entregue a própria vida “de bandeja” para uma única organização ou carreira. Afinal, a qualquer momento, você pode ser demitido ou “uberizado”.

Assim como se fala da importância da diversificação dos investimentos (patrimônio), é também preciso começar a pensar, com seriedade, na diversificação das fontes de renda. Isso é especialmente importante no caso de pessoas assalariadas que, num evento de perda de emprego, sofrem um corte abrupto do fluxo de receitas.

Nos Estados Unidos (de onde vem o conceito de gig economy) muitos autores da área de negócios e finanças pessoais falam que as pessoas precisam ter várias fontes de renda. Alguns dão números específicos de fontes de rendas diferentes, sugerindo que, se você estiver abaixo desse número, está em uma situação de risco.

Por exemplo, um dos autores que eu acompanho (que também tem um podcast muito popular) fala que a pessoa precisa ter, no mínimo, SETE fontes de renda. Outro artigo que eu li na semana passada, num site de negócios americano, falava de uma pessoa com TREZE fontes de renda. São números que podem parecer exagerados (e são!), mas, analisando o que esses autores chamam de “rendas alternativas”, pode-se notar que eles tratam coisas muito similares (que poderiam ser agrupadas em uma única categoria) como fontes separadas (talvez para dar um efeito mais “dramático” aos seus livros e artigos). Por exemplo, eles tratam rendas patrimoniais como juros de títulos de renda fixa, dividendos de ações e aluguéis (de imóveis ou de fundos imobiliários) como se fossem fontes separadas. Mas, na minha visão, seria mais correto colocar tudo isso numa categoria só de “renda gerada pelo patrimônio” (ou por uma carteira de investimentos).

Talvez, pensando de uma forma mais razoável (e talvez realista), o número ideal de fontes de renda seria algo entre três a quatro.

Um portfólio interessante (e hipotético) de fontes de renda seria algo como:

·         Atividade principal (seja emprego, atividade liberal ou empresarial)

·         Patrimônio (ativos financeiros ou reais, que geram renda passivamente)

·         Atividade secundária envolvendo conhecimento e experiência pessoal/profissional, como consultoria, coaching, aulas particulares, serviços online etc.

·         Patrimônio intelectual (livros, cursos online, patentes etc.).

Novamente, o que eu descrevi é uma situação hipotética. Algumas pessoas podem não ter patrimônio e investimentos (isso se forma com o tempo e com disciplina). Algumas pessoas podem não ter tempo ou intenção de criar patrimônio intelectual. Algumas pessoas podem optar por alguma atividade secundária de características mais “industriais” (algo na linha “fazer bolos caseiros”) ou colocar ativos de uso corrente (como sua residência ou seu carro) para gerarem dinheiro através de sites e aplicativos especializados.

A verdade é que a montagem desse portfólio de rendas é extremamente pessoal e dependente da realidade atual da pessoa, mas é algo que deve ser feito e, preferencialmente, deve-se observar aquelas coisas que são consideradas na montagem de uma carteira de investimentos, como a concentração de cada investimento e suas correlações. Uma carteira de investimentos com muita concentração em um ativo (ou classe de ativos) é potencialmente mais arriscada. Assim como uma carteira com ativos muito correlacionados (que andam “todos juntos”) também é mais arriscada.

O ideal é que suas atividades secundárias não tenham “nada a ver” com sua atividade primária. Isso nem sempre é possível, mas, quanto mais “descorrelacionadas” forem as suas fontes de renda, mais segura será a sua situação na eventualidade da perda de uma dessas fontes.

André Massaro - escritor, palestrante e conferencista.

Fonte: revista Exame 
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