Uma das perguntas mais frequentes dos investidores é
"quando ir para a renda variável". E aqui vai uma fórmula besta (mas
eficaz) para descobrir...
Considerando
que voltamos a ter uma taxa de juros de dois dígitos e que nossos instrumentos
de renda fixa estão novamente dando retornos muito atrativos, faz sentido
pensar em investir em renda variável?
A forma mais
típica de responder a uma pergunta como essa é tentar inferir se a bolsa está
“cara” ou “barata”. E como sabemos se está cara ou barata? Na verdade, não tem
como saber. Todo mundo fala que o segredo do sucesso no mercado de ações (ou
qualquer outro mercado) é “comprar na baixa e vender na alta”, mas essa é uma
daquelas coisas que são muito fáceis de falar, difíceis de fazer e, depois que
o mercado faz seus movimentos, todo mundo diz que aquilo era “óbvio” (é a tal
“falácia narrativa” do Nassim Taleb).
Existem duas coisas que não faltam
no mundo das finanças. Uma delas são esses “gênios da retrospectiva”, especialistas
em criar histórias para explicar aquilo que já aconteceu e convencer o mundo de
que eles “já sabiam”. A outra são fórmulas dos mais diversos tipos para tentar
determinar o timing correto do mercado, para saber se o mercado está
caro ou barato, se estamos na baixa ou na alta. Enfim, se é ou não hora de
entrar.
Essas fórmulas
não funcionam. Mas ainda assim é mais honesto tentar criar uma fórmula que diga
o momento certo de entrar no mercado do que bancar o “engenheiro de obra
pronta”, mesmo sabendo que a maioria dessas fórmulas e “receitas de bolo” não
passa de pura besteira. Basta um movimento um pouco diferente do mercado para
provar o quão besta é a fórmula na qual estávamos confiando, já que muitas
delas foram feitas para realidades do passado.
Há alguns dias, fiz uma palestra
onde tentei responder qual seria o momento adequado para entrar no mercado de
ações. Meu argumento é que, com as taxas de juros nos níveis atuais, não faz
muito sentido buscarmos o mercado de renda variável, já que as incertezas da
nossa economia são enormes e temos títulos públicos que estão dando retornos,
com baixíssimo risco, acima do dividend yield
típico de uma boa empresa e, mais que isso, com correção pela inflação. Dá para
competir com a renda fixa desse jeito?
Ao menos para
mim, está mais do que evidente que não é o melhor momento para comprar ações. A
não ser que se tenha alguma informação segura (e cuidado com informações
privilegiadas…) ou que alguma dessas fórmulas bestas esteja dando um sinal
claro de compra (que, nesse caso, eu passo…).
Mas quando,
então, seria o momento ideal de entrar na bolsa, caso as atuais circunstâncias
do mercado mudassem? Para responder a essa pergunta eu criei minha própria
fórmula. Uma fórmula tão besta, mas TÃO besta, que eu a batizei, simplesmente,
de “fórmula besta”.
A pergunta que
ela responde é: Qual o percentual de renda variável que devemos ter em nosso
portfólio considerando a taxa de juros real (acima da inflação) no momento?
Vamos então à
Fórmula Besta:
-
juros reais acima de 4% aa = zero
-
juros entre 2% e 4% aa = ¼ portfólio
-
juros entre 0 e 2% aa = até ½ do portfólio
-
juros reais negativos = até ¾ do portfólio
É uma fórmula besta e, mais que
isso, uma fórmula besta simples, que não tem a pretensão de dar o timing do mercado. É no máximo uma fórmula “pouco
científica” de alocação de ativos.
Para facilitar
a vida do investidor, podemos utilizar como referência de juros reais a taxa
que está sendo praticada por uma NTN-B de longo prazo (vencimento 2035 ou 2050,
por exemplo). Se estiver acima de 4% mais o IPCA (como está no momento que este
texto está sendo composto), a melhor pedida para um pequeno investidor é
permanecer no mercado de renda fixa (e não precisa necessariamente ser em NTN-B
– ela é usada apenas para referência – é interessante fazer uma carteira
diversificada de títulos de renda fixa).
Se a taxa de
juros cair, aí se adicionam instrumentos de renda variável até os percentuais
máximos permitidos pela fórmula besta. E nem é preciso rebalancear a carteira,
podemos trabalhar apenas com os novos aportes, deixando o que já está lá
“quietinho”.
Agora tem uma
pergunta que a fórmula besta NÃO responde: Em quais instrumentos de renda
variável devemos investir caso as taxas de juros reais caiam?
Bem, aí eu
teria que inventar uma nova fórmula besta, mas eu posso dizer que, nesses
últimos tempos, eu venho ficando cada vez mais adepto da ideia de investir
passivamente, através de fundos ou ETFs de índice.
Aqui preciso fazer uma ressalva: eu
acredito que exista o “alfa” (está escondido em algum lugar, tenho certeza!) e
tenho simpatia por algumas metodologias ativas, como o value investing (de base fundamentalista) e o trend following (de base mais técnica), mas para aquele
pequeno investidor inexperiente, acredito que procurar acompanhar os índices
principais é o melhor caminho.
Investir
passivamente e simplesmente procurar acompanhar o índice vão poupar o
investidor de tentar determinar quais os melhores setores, as melhores ações
etc. E nunca é demais lembrar que essas tentativas de determinar melhores
setores e melhores ações são feitas através de fórmulas muito complexas, mas
tão bestas (ou mais) que a minha.
Fonte:
Andre Massaro, Exame