"Precisamos
ensinar virtudes e empatia aos mais novos. Precisamos ensinar virtudes e
empatia aos mais novos". Essa frase deveria funcionar como um mantra para
todos os adultos que, direta ou indiretamente, convivem com crianças e jovens.
Nos
tempos de hoje, julgar e acusar o outro tem sido muito mais comum do que
respeitar, compreender, colaborar com ele de forma positiva. E, como sempre, os
mais novos têm seguido os passos dessa cultura que nós, adultos, construímos e
colocamos em prática com muita frequência.
"Como
ajudar um adolescente de 14 anos a aceitar as pessoas que estão ao seu redor
para que, em vez de julgar, faça algo para ajudar a melhorar?" Essa
pergunta de uma leitora, somada à leitura do texto publicado na Folha, "Que espécie de médico as escolas brasileiras estão formando?", de
Cláudia Collucci, são ótimos pretextos para falarmos a respeito do assunto.
Já faz
tempo que a educação, tanto a familiar quanto a escolar, tem adotado como meta
o ensino –e, portanto, a expectativa do aprendizado– dos conteúdos escolares. É
por isso que as famílias anseiam por boas notas escolares dos filhos, e escolas
consideradas boas são aquelas que têm uma quantidade enorme de conteúdos que
devem ser aprendidos pelos alunos, não importa como.
São
poucas as escolas que escapam desse foco conteudista, e é, ainda, igualmente
pequeno o número de famílias que procuram escolas chamadas alternativas, ou
seja, que têm metas diferentes daquelas praticadas pelas escolas tradicionais.
O
ensino das humanidades nas escolas tem ocupado lugar secundário na hierarquia
das disciplinas, e a reforma do ensino médio oficializa essa posição. Um
exemplo é o fato de as disciplinas da área de humanas serem ensinadas para que
o aluno aprenda mais conteúdos em vez de aprender, com esse conhecimento, a
contextualizar as situações, a compreender, a ser crítico, ético, cidadão,
entre outras possibilidades.
A
atuação de muitos jovens profissionais –não apenas da medicina, como visto
recentemente– nos leva a constatar que o ensino das humanidades nos faz falta,
muita falta!
Se
queremos que nossos filhos e alunos possam colaborar para mudar a realidade
para que tenham uma vida melhor, precisamos parar com essa história de que a
escola deve estar sempre correndo atrás do que o mercado aponta buscar. Há um
grande paradoxo nessa equação, porque primeiramente o mercado aponta,
posteriormente constata a fragilidade da formação dos profissionais que
contrata e, então, reclama.
O mundo
só melhora se essa equação for invertida: é o mercado que deve correr atrás do
conhecimento criado e recriado nas instituições educacionais de todos os
níveis. Quando conseguirmos praticar isso, teremos grandes avanços, em todos os
sentidos, nas ciências e na prática delas.
É
justamente aí que entram o ensino da empatia, das virtudes, da ética, das
humanidades em geral. E isso podemos e devemos fazer desde quando as crianças
são bem pequenas, no cotidiano da vida. Na maioria das vezes, precisamos,
apenas, oferecer as oportunidades às crianças.
Rosely
Sayão – psicóloga e consultora em educação
Fonte:
caderno cotidiano / jornal FSP