Não é moderno
admitir isto em uma era de Expedia, Priceline e outras ferramentas
faça-você-mesmo on-line, mas lá vai: eu sinto falta dos agentes de viagem.
A internet
decolou como uma maneira de planejar viagens porque os intermediários humanos
eram sempre um pouco suspeitos —tinham perícia questionável, métodos opacos e
fidelidades imprecisas.
De início, as
máquinas pareceram melhorar tudo. Para viagens descomplicadas, o agendamento
on-line hoje é muito mais fácil que antes.
No entanto,
vale considerar o quanto realmente ganhamos —e perdemos— ao trocar os agentes
humanos por máquinas. Com isso, podemos aprovar uma tendência emergente na
internet: start-ups que tentam colocar de volta agentes humanos em nossa tomada
de decisão, seja para viagens, serviços domésticos ou compras.
“Muitas
empresas insistem na ideia de que a tecnologia solucionará todos os problemas e
que não devemos usar pessoas”, disse Paul English, cofundador de uma nova
empresa de turismo on-line chamada Lola Travel. “Pensamos que as pessoas agregam
valor, por isso estamos criando tecnologias para facilitar a conexão humano a
humano.”
Lola, que só
está funcionando em uma versão limitada de pré-lançamento, tem uma interface
incomum: quando você quer marcar uma viagem, apenas envia uma mensagem de
texto. O pedido pode ser vago —”Minha família está pensando em ir à Europa no
próximo verão”—, porque do outro lado há uma pessoa. O agente conhece suas
preferências gerais de viagem e tem acesso a muitas das mesmas ferramentas que
você usaria para marcar uma viagem. No entanto, o agente tem algo a mais:
experiência.
Não é apenas
nas viagens que estamos sendo solicitados a trabalhar mais. A grande mágica da
internet é o que um professor de escola de economia chamaria de
“desintermediação”.
Ao reunir
toda a informação do mundo e permitir que cada um de nós atue sobre ela, os
computadores nos ajudam a superar os caros intermediários humanos que antes se
situavam entre os consumidores e os fornecedores.
Hoje, em vez
de consultar um agente de seguros, você simplesmente procura on-line. No
supermercado, temos as máquinas autorregistradoras. Você pode comprar ações sem
um corretor, publicar um livro sem um editor, vender uma casa sem um agente e
comprar um carro sem uma revenda. Lentamente, mas com firmeza, os robôs parecem
estar substituindo todos os intermediários e transformando o mundo em uma
sociedade de autosserviço.
Um economista
elogiaria a grande desintermediação por sua eficiência. Como cliente, você
talvez tenha uma reação diferente: veja todo o trabalho que agora tem de fazer.
Foi realmente inteligente livrar-se de todos aqueles auxiliares humanos?
Em muitos
casos, sim, mas restam vastas áreas do comércio em que a orientação de um
especialista humano funciona muito melhor que uma máquina. Além de viagens,
considere o processo de encontrar um encanador ou um eletricista. Você poderia
passar o dia inteiro na Craigslist, Yelp ou Angie’s List procurando a melhor
pessoa para seu serviço, o que é exatamente o problema.
“Vai passar
muito tempo até que um computador consiga substituir o poder de estimativa de
um funcionário experiente”, disse Doug Ludlow, fundador da Happy Home Company,
start-up fundada há um ano que usa especialistas humanos para encontrar a
pessoa certa para seu trabalho. A empresa, que opera na região da baía de San
Francisco, mas pretende se expandir pelos EUA, tem contratos com uma rede de
profissionais de confiança.
“Sabemos quem
mandar para fazer o serviço e quanto custará”, disse Ludlow. A companhia trata
do processo de pagamento, agendamento e reclamações, caso algo dê errado.
A Happy Home
cobra uma porcentagem de cada serviço que agenda, mas, como pode reduzir alguns
custos por operar uma rede de profissionais, seus preços podem se equiparar ao
que você encontraria procurando ajuda por conta própria.
A ascensão
dos computadores é muitas vezes retratada como uma grande ameaça para nossos
empregos. No entanto, esses serviços traçam um cenário mais otimista: que os
humanos e as máquinas trabalharão juntos e nós, como clientes, poderemos mais
uma vez preguiçosamente pedir ajuda.
Stuart Goldenberg –
jornalista do New York Times
Fonte: suplemento NYT do jornal FSP