Vale a pena ter risco na carteira ou é melhor
concentrar em renda fixa?
A
decisão sobre ter risco não depende do retorno passado dos ativos.
Quando o
investidor analisa sua carteira de investimento, é comum comparar os
rendimentos passados dos investimentos de renda fixa atrelados ao CDI com os de
risco.
Sem dúvida que para avaliar a adoção de qualquer alternativa de risco, é
preciso ter uma referência e a escolha óbvia no Brasil é o CDI, mas a forma de
análise costuma ser errada.
Nesse sentido, uma das perguntas que mais recebo
atualmente é: vale ter risco na carteira de investimento, considerando as taxas
de juros que temos?
Atuo no mercado financeiro há quase um quarto de século. Já
passei por momentos em que a taxa Selic foi de 45% ao ano e outros em que ela
esteve em 2% ao ano.
Sem dúvida, quando as taxas estão elevadas, a escolha entre ter
risco ou não parece óbvia. Entretanto, o nível da taxa de juros não facilita
muito a resposta à pergunta do primeiro parágrafo.
Não é porque as taxas de juros são baixas que se deve ter muito
risco ou ter pouco risco quando as taxas estão altas. Por exemplo, mesmo com a
Selic média de 4,5% em 2021, o investimento em ações também não foi
interessante naquele ano.
Hoje, parece fácil e lógico ter pouco risco na carteira, pois
você está olhando para o que ocorreu no passado. Ou seja, sua decisão está
sendo baseada no passado e não no futuro como deveria.
Apenas o fato de as taxas de juros estarem elevadas não
significa que a perspectiva do mercado de ações é negativa.
Os ativos de risco são precificados descontando-se os fluxos
futuros pelas taxas de juros acrescidas de um prêmio de risco.
Ocorre que nesse
momento em que as taxas estão elevadas, também o prêmio de risco costuma estar
alto. Logo, os ativos de risco, nestes instantes, costumam negociar com um
retorno potencial ainda mais alto que o normal.
Portanto, para decidir sobre ter risco na carteira, é preciso
avaliar não apenas o nível das taxas de juros no momento, mas, principalmente,
a trajetória destas taxas no futuro e como as perspectivas econômicas devem
evoluir. Também, alinhar isso com o perfil de investidor.
De forma mais simples, sua decisão deve se basear em duas
respostas
1 - Seu cenário prospectivo é de piora das condições econômicas no horizonte de
12 a 36 meses?
2 - Quão frustrado ou angustiado você fica em ver sua carteira rendendo menos
que o CDI?
A segunda pergunta está relacionada ao seu perfil de investidor.
Quem aceita ter risco tem de entender que há uma chance razoável de se perder
da renda fixa em períodos de um a três anos.
Logo, antes de pensar em cenário
econômico, pense em seu perfil de investidor e reflita se você possui habilidade
de correr risco.
A resposta à primeira pergunta serve para que você reflita sobre
as possibilidades de ganho em se ter risco.
Caso não vislumbre melhora potencial nas condições econômicas,
não faz sentido ter risco ou pelo menos ter apenas uma pequena exposição, pois,
possivelmente, os juros permaneceriam elevados por mais tempo e o balanço de
retorno por risco para o mercado acionário seria desfavorável.
Neste momento, o cenário parece binário o suficiente para se
justificar ter pouco risco em sua carteira e ter uma maior exposição à renda
fixa.
Michael Viriato - assessor de
investimentos e sócio fundador
da Casa
do Investidor.