Bill Clinton era conhecido por sua empatia, mas não está
claro se a qualidade importa aos eleitores (Max Whittaker/The New York Times)
A empatia é uma virtude essencial para um líder?
A sabedoria convencional diz que um bom candidato deve ser capaz
de sentir a dor do eleitor. O presidente Bill Clinton foi saudado como um
virtuoso da empatia, supostamente usando essa qualidade para vencer George H.
W. Bush, considerado tão alheio que teve que dizer a uma plateia: “Mensagem: eu
me importo”.
No entanto, não está claro se a empatia realmente importa para
os eleitores.
Nas prévias republicanas, que definirão o candidato do partido
para concorrer à Presidência dos Estados Unidos, Donald Trump, que se gaba de
ser tão rico que não sente dor, derrotou o senador Marco Rubio, da Flórida, que
enfatizou as dificuldades financeiras de sua família, e o governador John
Kasich, de Ohio, conhecido por receber com abraços os participantes dos
comícios.
Alguns cientistas políticos dizem que a empatia não é um fator
crucial nas eleições. Um candidato muitas vezes vence, apesar de seu adversário
receber notas mais altas em pesquisas que perguntam quanto cada um “se importa
com as necessidades e os problemas de pessoas como você”.
A empatia talvez não seja tão necessária para um líder. Apesar
de a capacidade de simpatizar com o sofrimento alheio ser amplamente elogiada
como virtude, ela também tem um lado negativo.
O crítico mais proeminente é Paul Bloom, professor de psicologia
na Universidade Yale. Ele afirma que a empatia pode inspirar altruísmo. No
entanto, você muitas vezes acaba ajudando as pessoas erradas, porque a empatia
é tendenciosa e paroquiana. Ela favorece crianças e animais vulneráveis e
discrimina as pessoas não atraentes. Você tem maior probabilidade de simpatizar
com alguém do seu grupo social do que com um forasteiro, especialmente se ele
tiver aparência diferente.
A empatia é alheia a números, nota Bloom, e é por isso que você
tende a se importar mais com uma menina presa em um poço do que com milhares de
refugiados de guerra. Além disso, a empatia pode ser manipulada para inspirar
agressão. Bloom e um colega estão concluindo que quanto mais empatia as pessoas
sentem pelas vítimas do terrorismo no Oriente Médio, mais elas são favoráveis
às ações militares.
“Se eu quiser fazer coisas terríveis com um grupo, uma maneira
certeira é despertar empatia pelas vítimas desse grupo”, disse ele. “Muitas
vezes, o argumento a favor da guerra se baseia na empatia pelas vítimas do
inimigo.”
Bloom conclui que a empatia é supervalorizada como guia para a
moral pessoal ou a liderança. “Os melhores líderes têm um certo distanciamento
esclarecido”, disse. “Eles reconhecem o sofrimento das vítimas dos terroristas,
mas também reconhecem que ir à guerra criará futuras vítimas.”
Outros pesquisadores veem a empatia como algo controlável. “A
empatia pode custar caro, levando ao uso de recursos materiais, esforço
emocional e risco físico”, disse Daryl Cameron, psicólogo na Universidade de
Iowa. “Se as pessoas reconhecem esses custos, conscientemente ou não, podem
regular estrategicamente sua empatia.”
Para testar essa teoria da “empatia motivada”, Cameron e um
colega compararam as reações de pessoas a histórias sobre as crianças que
sofrem em Darfur. Quando as pessoas não esperavam que lhes pedissem uma doação,
reagiam mais fortemente a uma história sobre um grupo de crianças do que a uma
história sobre uma única criança. Porém, quando elas esperavam que lhes
pedissem uma doação, sua compaixão pelo grupo maior diminuía muito.
Em outras experiências, psicólogos da Universidade Stanford
descobriram que, quando as pessoas são estimuladas a acreditar que podem
aumentar sua empatia, tornam-se mais empáticas com as pessoas que têm origens e
crenças diferentes.
Bloom concorda que essa emoção pode ser aumentada, mas diz que é
melhor contar com a estratégia menos emocional descrita em 1759 por Adam Smith
em “A Teoria dos Sentimentos Morais”.
Smith comentou que o “sentimento por iguais”, termo que usou
para descrever a empatia, é uma emoção poderosa, mas limitada: “Não é aquela
frágil fagulha de benevolência que a Natureza acende no coração do ser humano
que é capaz de contrabalançar o mais forte impulso de amor próprio”, escreveu
Smith. “É uma força maior que se exercita em tais ocasiões. É razão, princípio,
consciência o grande juiz e árbitro de nossa conduta.”
A razão dificilmente parece ser o árbitro da conduta de um
candidato hoje em dia. Mas os eleitores poderão afinal preferi-la à empatia.
John Tierney – jornalista do The New
York Times