A dor e o prazer das decisões


A difícil decisão de vender com prejuízo ou ficar esperando a recuperação do mercado.

volatilidade do mercado te preocupa? 

A mim também, e, embora seja inevitável e esperada, não é facilmente aceita pelos investidores.

O campo das finanças comportamentais revela que a dor provocada pelas perdas nos impacta duas vezes mais que o prazer que sentimos com os ganhos.

A relação custo-benefício é muito usada para a tomada de decisão, mas “custo” e “benefício” são construções intelectuais muito distantes das emoções reais que impulsionam a escolha final, a “dor” e o “prazer” associados a uma decisão difícil.

Vamos supor uma caixa com quadro quadrantes para abordar especificamente a dor e o prazer da decisão de ficar na renda variável, ou sair, deixando dinheiro na mesa, migrando para ativos de renda fixa, de baixo risco e alta liquidez.

Caixa 1: ficar e perder mais
O custo (e a dor) de manter o investimento é perder ainda mais, possibilidade realista que pode ser agravada quando as notícias ou os extratos financeiros o instigam a pensar que poderia ter evitado essa dor se tivesse saído mais cedo.

Caixa 2: sair e eliminar preocupação
O benefício (e o prazer) de sair da posição, buscando refúgio numa aplicação conservadora de renda fixa, é eliminar a preocupação e garantir que as perdas não serão ampliadas. 

Com certeza o investidor dormirá melhor nesta noite, mas...

Caixa 3: sair e perder a recuperação
O custo (e a dor) dessa tranquilidade (sair da posição) é a possibilidade de perder o momento positivo da virada de preços, eliminando a oportunidade de recuperar as perdas no próximo movimento de alta. 

Essa dor é muitas vezes amortecida pela esperança de que poderemos voltar ao mercado no caminho de alta, uma aposta típica dos desesperançados.

Caixa 4: ficar e alcançar objetivos
O benefício (e o prazer) de manter o investimento é a chance de alcançar objetivos de longo prazo, razão pela qual entramos nesse mercado. 

Historicamente a renda variável paga um prêmio sobre as operações mais conservadoras precisamente porque exige a travessia de tempos de volatilidade. 

E, para muitos, sem o maior retorno esperado das aplicações de risco, as metas financeiras não seriam cumpridas.

Isso significa que nunca há uma razão para vender posições após uma queda significativa nos preços? Não.

Os argumentos pressupõem uma carteira diversificada, equilibrada com a força estabilizadora da renda fixa, alocada de acordo com a capacidade (horizonte de tempo) e a disposição (força emocional) para assumir riscos. Se esse não for o caso, pode haver, de fato, motivos para a decisão de sair.

Tratamos apenas das opções extremas de manter o plano inicial ou desistir, entretanto, há um vasto intervalo entre os extremos. 

Quando uma correção típica de mercado ou manchete assustadora evidenciam que não somos tão tolerantes aos riscos (e às perdas) como imaginávamos, recalibrar a carteira pode ser apropriado.

Sair de ativos arriscados e migrar para mais seguros põe o investidor na caixa 3, sendo necessário considerar quanto de terreno perdido será possível recuperar no provável avanço subsequente do mercado.

Para os que não precisam de potenciais retornos mais altos para atingir metas financeiras, e claramente não têm estômago para volatilidade, é sensato recomendar pequena ou nenhuma exposição aos mercados mais arriscados. 

Para os que estão no mercado em um portfólio bem estruturado, a decisão de sair merece consideração, usando tanto o coração quanto a mente.

MARCIA DESSEN - Planejadora financeira CFP (“Certified Financial Planner”), autora de “Finanças Pessoais: O Que Fazer com Meu Dinheiro”.

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