A tecnologia costuma ser apresentada como o grande equalizador
educacional. Iniciativas como o One Laptop Per Child ("um laptop por
criança") e os Massive Online Open Courses (Mooc, "cursos online
abertos e massivos") deveriam servir para democratizar a aprendizagem. Mas
então os laptops de US$ 400 dados a crianças pobres do mundo todo quebraram, e
o índice de reprovação em alguns dos Moocs chegou a 75%.
A realidade se impôs.
Muitos acreditam que os
computadores possam reduzir a defasagem educacional, mas pesquisas mostram que
proporcionar acesso à internet para estudantes de famílias pobres é algo que
tende a ampliar essa disparidade, conforme noticiou Susan Pinker no jornal
"The New York Times".
Jacob Vigdor e Helen Ladd,
economistas da Universidade Duke, acompanharam 1 milhão de secundaristas de baixa
renda durante cinco anos, a partir do momento em que eles receberam
computadores. Concluíram que houve "um persistente declínio nas notas de
leitura e matemática". As notas dos meninos caíram drasticamente porque
eles usavam as máquinas para jogar games, navegar nas redes sociais e baixar
músicas e filmes.
A mesma coisa aconteceu no
projeto One Laptop, no qual pesquisadores descobriram que as crianças passaram
a dedicar menos tempo à lição de casa.
Novos estudos sugerem que os
educadores devem se preocupar mais em reduzir o número de alunos por professor,
intervir precocemente nos casos necessários e observar traços de personalidade.
Chicago criou um programa
intensivo onde meninos negros e latinos trabalham em duplas com um tutor, e os
participantes acabaram ultrapassando em até dois anos os colegas que não haviam
recebido essa ajuda, contou David Kirp no "NYT".
Muitos programas atendem a
faixa etária de 0 a 3 anos, mas a adolescência pode ser igualmente importante.
O psicólogo Laurence Steinberg, da Universidade Temple, observa em seu novo
livro que os neurocientistas já perceberam que a adolescência, como a primeira
infância, é um "período de tremenda 'neuroplasticidade'", durante o
qual o cérebro muda graças à experiência.
Nicholas Kristof escreveu que
ajudar precocemente crianças em condições desfavorecidas não só reduz a
desigualdade como também pode representar economia de dinheiro público. Ele
citou James Heckman, professor da Universidade de Chicago e economista ganhador
do prêmio Nobel, segundo o qual a maneira mais barata de reduzir a
criminalidade é investir em programas para a primeira infância. Heckman
calculou que a mesma redução da criminalidade por meio da contratação de
policiais exigiria cinco vezes a mesma quantia.
"Educação precoce"
inclui orientar grávidas em situação de risco a não beber, fumar ou usar
drogas. Após o nascimento, ajudá-las a amamentar e a ler para a criança.
Aparentemente, escreveu Kristof, isso ajuda porque "os primeiros anos são
a janela em que o cérebro está se formando e quando capacidades básicas, como
determinação e autocontrole, se desenvolvem".
Em algumas escolas, ter
determinação, autocontrole e curiosidade são agora parte do currículo. Os
cientistas dizem que a personalidade pode ser mais importante do que a inteligência.
O professor de psicologia
Arthur Poropat cita dados segundo os quais a tendência a ser "diligente,
obediente e trabalhador" e qualidades como criatividade e curiosidade são
melhores que a inteligência como indicadores para prever o rendimento escolar
de um aluno. Essa é uma boa notícia, escreveu Poropat, porque "a
personalidade muda com o tempo, muito mais do que a inteligência".
Mandy Benedix, que dá aulas
sobre determinação numa escola do ensino médio em Pearland, no Texas, disse ao
"NYT" que "características não cognitivas podem ser
ensinadas". "Sabemos, também, que elas são necessárias para o
sucesso. Olhe para qualquer pessoa que, por um longo tempo, tenha tido sucesso.
Todas exibiram em algum momento determinação para prosseguir."
Tom Brady – jornalista do New York Times
Fonte:
jornal NYT