O
fundamental é retardar seu avanço para que o sistema de saúde dê conta
A propagação do novo coronavírus
vem crescendo exponencialmente: o número de casos no mundo, excluída a China,
dobra a cada 4 dias em média. Claro que isso não vai continuar para sempre: à
medida que o número de pessoas infectadas for aumentando, o vírus terá mais
dificuldade para contagiar novos pacientes, e a exponencial dará lugar a uma
curva mais lenta de crescimento, chamado logística.
Se as pessoas curadas ficarem imunizadas (isso ainda não
é sabido), o próprio número de pacientes começará a diminuir naturalmente: a
logística dará lugar a uma curva em forma de sino, com um valor máximo de casos
a partir do qual a doença vai diminuindo. Então, por que precisamos nos
preocupar?
Embora ainda saibamos pouco sobre o coronavírus, a taxa deletalidade parece ser relativamente baixa. Inclusive, os
especialistas acreditam que, de um jeito ou de outro, cerca de metade da
humanidade acabará sendo infectada. Então, por que todo o auê?
O problema é que, além de ser quase duas vezes mais
contagioso do que a gripe, o coronavírus pode apresentar sintomas graves, requerendo
atendimento hospitalar para cerca de 20% dos pacientes (5% em tratamento
intensivo). Isso é 60 vezes mais do que a gripe. No Brasil, se metade da
população ficar doente ao mesmo tempo, e 20% dos pacientes precisarem de
internação, serão necessários 21 milhões de leitos hospitalares!
Nenhum país do mundo dispõe de sistema de saúde capaz de
atender essa demanda. Por isso, mesmo que nãopossamos impedir de todo a infecção, é fundamental retardar o seu avanço,
de modo que o número de pacientes em cada momento nunca ultrapasse a capacidade
do sistema de saúde.
O crescimento da doença depende essencialmente da taxa
de contágio e do número de contatos de cada paciente infectado com pessoas
saudáveis. Regras de higiene ajudam a diminuir o primeiro fator. Para o
segundo, a única medida efetiva é reduzir o contato social. Até porque se
acredita que pessoas sem sintomas podem ser portadores da doença e contagiar
outros.
Países quereagiram de modo enérgico, como Taiwan e Coreia do Sul, já mostraram que épossível, sim, controlar a doença, sem pânico, isolando as pessoas
tanto quanto possível.
Não é demais enfatizar que, diferentemente de outras
pandemias, desta vez sabemos o que precisamos fazer. E a razão é uma só:
ciência.
Marcelo Viana |
diretor-geral do Instituto de Matemática Pura e Aplicada, ganhador do Prêmio
Louis D., do Institut de France.
Fonte: coluna jornal FSP