Estados que levaram mais a sério verificação de larga escala tiveram maiores progressos
Nos tempos de hoje, o óbvio parece precisar ser detalhadamente explicado. Então, vamos lá: por que sabemos que as crianças brasileiras não aprendem, como registram estudos como o “World Development Report” de 2018 do Banco Mundial?
Porque o Brasil tem um bom sistema de avaliação que permite saber o quanto aprendem alunos do país, e, mais especificamente, das redes municipais e estaduais ou até de cada escola pública.
O sistema de avaliação brasileiro não é perfeito. Poderia incorporar outras dimensões, prever melhores instrumentos para devolutivas para redes e escolas, aperfeiçoar o Ideb. Mas é considerado, pela comunidade internacional, um dos melhores entre os países emergentes.
Nesse caso, por que temos ainda uma educação de qualidade precária? Em primeiro lugar, porque demoramos a universalizar o acesso à educação.
Em 1930, só 21,5% das crianças estavam na escola, enquanto a Argentina contava com 62% e o Chile, 73%, só para falarmos de países próximos.
A Coreia tinha índice semelhante ao nosso, mas no final da década de 1960 já tinha universalizado, enquanto nós contávamos só com cerca de 40%.
Em outros termos, a escola pública de “qualidade” para a qual tantos lançam olhares saudosos era boa, em parte, porque atendia, majoritariamente, filhos de famílias letradas.
É bom também lembrar que, nessa época, não se avaliava a qualidade da educação. Além disso, o exame de admissão, aplicado para definir quem teria acesso ao antigo ginásio, excluía a grande maioria dos alunos oriundos de meios mais vulneráveis.
Agora que temos o acesso ao ensino fundamental universalizado e dispomos de leis que determinam que todos os brasileiros de 4 a 17 anos devem estar na escola, um cuidado maior com a qualidade deve ser tomado e isso inclui avaliação.
Afinal, o Objetivo de Desenvolvimento Sustentável 4, de que o Brasil é signatário, estabelece que qualidade deve ser definida como “resultados de aprendizagem”—leia-se estabelecidos e medidos com base em critérios científicos, e não na mera percepção das pessoas.
Não é por acaso que os estados que levaram mais a sério avaliações de larga escala foram os que tiveram maiores progressos em aprendizagem. Goiás, Espírito Santo e Ceará são casos emblemáticos, assim como municípios como Sobral ou a capital de São Paulo.
Mas o que falta ao sistema de dados sobre aprendizagem no Brasil são avaliações formativas, aquelas utilizadas pelos próprios professores ou por secretarias, para obter informações sobre o que cada aluno aprendeu e sobre quem está ficando para trás.
Todo aluno na escola aprendendo deveria ser o mantra!
Claudia Costin - diretora do Centro de Excelência e Inovação em Políticas Educacionais, da FGV, e ex-diretora de educação do Banco Mundial.
Fonte: coluna jornal FSP