Como é ser velho?
Vista o “traje da velhice”, o R70i Age Suit, no Centro de
Ciência Liberty, em Jersey City, Nova Jersey, e de repente você terá 85 anos.
Não é muito agradável.
O equipamento robótico vem com óculos e “realidade aumentada”.
Um atendente aciona um borrador e sua visão se dissolve em bolhas acinzentadas.
“Isto se chama degeneração macular relacionada à idade”, diz o inventor do
traje, Bran Ferren.
Mais botões são acionados, e sua audição mergulha em uma névoa
de tinido, abafamento e distorção. O eco aumenta, interrompendo sua fala e
simulando os efeitos da afasia.
Carregado com hardware e um computador, o traje em si pesa 18
kg, distribuídos da maneira mais desconfortável possível. “E vai ficar muito
pior”, prometeu Ferren. Eu levantei um braço e o sistema de alavancas e discos
de freio do traje entrou em ação. Parecia que minhas articulações tinham se
tornado desengraxadas. Eu mal conseguia erguer meu braço acima do ombro.
Ferren me convidou para subir numa esteira rolante. Montei com
dificuldade. “Agora vamos começar a perder força muscular”, disse ele.
Por que seu avô se movimenta tão devagar? Porque atravessar o
estacionamento caminhando parece para ele a terceira hora de uma escalada,
carregando uma mochila pesada e torta.
Ferren então definiu a resistência em um lado do meu corpo em um
nível chamado normal, e no outro em extremo. Os dispositivos imitavam como ele
se sentiu quando tentava caminhar pouco antes de sofrer um implante de prótese
de quadril cinco semanas atrás, com apenas 63 anos.
“Até agora você andou aproximadamente meio quarteirão, e seu
coração está a 130 batimentos por minuto”, disse ele.
Em apenas dez minutos, o traje do envelhecimento me trouxe
frustração, depressão e desesperança. Se fazer as tarefas mais básicas do
cotidiano é tão difícil, você se pergunta, por que se dar o trabalho?
Apesar disso, o traje também o torna menos propenso a perder a
paciência com as pessoas mais velhas da sua vida.
“Como você faz as pessoas começarem a falar sobre essas coisas
que elas não querem discutir?”, disse Ferren, cuja mãe tem uma doença
degenerativa incurável. “E se você precisar de cuidados constantes, como vai
pagar? A maioria das famílias não tem capacidade para isso e gasta suas
poupanças muito depressa.”
“É realmente assim que meu pai se sente quando caminha pela
rua?”, perguntei a Ferren.
“Por que você não pergunta a ele?”, sugeriu ele.
Meu pai, Aaron Newman, tem 85 anos. Telefonei para ele. Descrevi
a experiência na esteira e perguntei se era assim que ele se sentia. “Não”,
respondeu. “É muito pior.”
Minha mãe, Helen Newman, que tem 84, pegou o telefone. Eu lhe
disse que o traje me fez sentir que nada valia tanto esforço. “Foi assim que eu
reagi esta manhã”, disse ela. “Levantei-me com todos os ossos estalando,
arrastei-me até o banheiro e disse: ‘Ah, vou voltar para a cama’.”
Andy Newman – jornalista do New York Times