Momento de tensão: qual é o
risco de você parar de respirar se não pensar a respeito?
Felizmente, nenhum. Respirar é
algo que fazemos sem precisar de monitoração consciente. Não porque respirar
seja um reflexo, uma ação que ocorre inevitavelmente em resposta a um estímulo
sensorial – embora, quando acontece de o sangue ficar saturado demais com gás
carbônico, isso sirva de fato como um sinal que inicia uma inspiração reflexa,
o que, embaixo d'água, é o que causa o afogamento.
Respirar, em condições normais,
é um ciclo de contrações motoras organizado por um grupo de milhares de
neurônios no bulbo cerebral, quase chegando na medula espinhal, chamado
Complexo preBötzinger (CpreB).
Cada surto de atividade dos
neurônios do CpreB causa a contração do diafragma e, assim, uma inspiração.
Como os surtos são cíclicos, controlados interna e espontaneamente pela rede
formada pelos neurônios do CpreB, a respiração também é cíclica –sem que o resto
do cérebro precise pensar a respeito.
A respiração, contudo, pode ser
modulada por vários fatores. A alteração dela quando se ri, chora, corre, fica
tenso ou preso em um ambiente com pouco oxigênio mostra que os neurônios do
CpreB são afetados por fatores cognitivos e fisiológicos.
Suspirar é um desses casos.
Seja o suspiro "fisiológico" que ocorre algumas vezes por hora em
nós, humanos (e que mantém a capacidade respiratória ao inflar alvéolos
pulmonares que tendem espontaneamente a colapsar), ou associado a tristeza,
expectativa, exaustão, alívio ou simples sugestão, o suspiro é uma
"inspiração dupla".
No CpreB, um suspiro surge como
um surto duplo de ativação, que faz uma segunda inspiração começar assim que a
primeira se completa. Um novo estudo do grupo de Jack Feldman, o descobridor do
CpreB, na Universidade da Califórnia em Los Angeles, acaba de mostrar que
suspiros são iniciados pelo CpreB sob a ação de dois variantes do neuropeptídeo
bombesina, vindos de duas estruturas vizinhas.
Talvez uma dessas estruturas
funcione como mediadora dos suspiros emocionais e a outra, dos suspiros
fisiológicos. Mais pesquisa dirá. Enquanto isso, fica a garantia de que
respirar, ou suspirar quando necessário, continuará acontecendo sem que você
precise se preocupar com isso –cortesia de alguns milhares de neurônios no seu
CpreB.
Suzana Herculano-Houzel - neurocientista, professora da
UFRJ, autora do livro "Pílulas de Neurociência para uma Vida Melhor"
(ed. Sextante)
Fonte: www.suzanaherculanohouzel.com