Rotativo a 100% continua
inviável para quase todos os brasileiros
Juros são escorchantes, mesmo que limitados ao dobro da dívida.
O CMN (Conselho
Monetário Nacional) fixou o teto de 100% do valor da dívida para
os juros do
cartão de crédito.
Oba, tudo resolvido?
Não, foi um paliativo, como tomar
analgésico para a dor de cabeça. Melhora, mas não ataca a causa, somente os
efeitos.
É melhor se
endividar com 100% do que com mais de 400%? Sim, porém as
pessoas ficam inadimplentes porque têm baixa renda, perderam o emprego, estão
subempregadas, e de modo geral por não terem recebido educação financeira a
partir da infância.
Não seria tão
difícil instituir educação financeira nas escolas, vinculada ao
ensino de matemática.
E criar, dessa forma, uma cultura de fazer e seguir
orçamentos, confrontando receitas e despesas.
Quanto à formalização do
emprego, o desafio é muito maior. Não basta exigir que todos os empregadores
respeitem a CLT (Consolidação das Leis do Trabalho), que, sim, continua em
vigor, embora amplamente deixada de lado.
Seria necessário
um amplo debate nacional acerca dos custos que incidem sobre o salário,
algo fundamental, tanto que a desoneração da folha de pagamento gerou queda de
braço entre o governo federal, as empresas e o Congresso Nacional.
O presidente Luiz
Inácio Lula da Silva (PT) vetou a desoneração, mas o veto foi
derrubado pelos parlamentares.
É evidente que esse tema teria de ser
aprofundado, a fim de que o custo do emprego fosse totalmente revisto.
Além disso, melhorar a renda
depende da geração de empregos, que vem do crescimento da economia.
Há um ensaio de crescimento do PIB (Produto
Interno Bruto), depois de vários anos de economia anêmica, fraquinha,
inconfiável.
O salário mínimo, que por lei
deveria assegurar uma vida digna, mal cobre o custo da cesta básica.
Em 2022,
segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), 60,1% da
população do Brasil contava para viver com até um salário mínimo per capita;
31,8%, com renda entre um e três salários, e 8,1% com mais de três salários
mínimos.
Somente dois estados brasileiros
—Santa Catarina e Rio Grande do Sul— tinham mais habitantes com renda per
capita entre um e três salários do que de até um salário mínimo por mês.
Com esse nível de renda, é óbvio
que o simples ato de comprar qualquer produto que não seja alimento abre as
comportas do endividamento.
O rotativo do cartão de crédito tem juros
escorchantes, inviáveis para quase todos os brasileiros, mesmo que limitado ao
dobro da dívida.
Essa é a realidade que avança de 2023 para 2024. E que,
lamentavelmente, não mudará significativamente tão cedo. Feliz Ano-Novo!
MARIA INÊS DOLCI - advogada especializada na área da defesa do consumidor.