Professora e alunos em sala de aula de escola municipal em Santana de Parnaíba (SP)
Um novo ano letivo se inicia e a pergunta feita reiteradas vezes se põe novamente: como fazemos para a educação melhorar, agora que as crianças estão finalmente na escola? Afinal, cada ano de ensino com baixas expectativas e de aprendizado limitado é um período perdido.
Neste ano, já contamos com a Base Nacional Comum Curricular, que estabelece as aprendizagens mínimas que qualquer aluno deve adquirir ao longo de sua escolaridade, o que é um avanço.
Mas pesquisas internacionais mostram que o fator mais importante no processo educacional é o professor. Naturalmente, essa deveria ser a agenda prioritária de autoridades educacionais em todo o país.
Isso envolve atrair e reter os melhores do ensino médio para a profissão, formá-los bem na universidade, apoiá-los com materiais adequados e investir em formação em serviço voltada a sua prática.
Infelizmente, a profissão de professor é muito desvalorizada. Segundo estudo recente do BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento), em países como Coreia do Sul, Finlândia e Espanha mais jovens de 15 anos desejam ser professores que engenheiros.
No Brasil, não só é exatamente o contrário como a diferença é gritante. Hoje, apenas 2,4% dos jovens brasileiros desejam cursar licenciaturas ou educação, contra 7,5% há cerca de dez anos. As razões são conhecidas: baixos salários e reduzido prestígio social da carreira.
Além disso, as universidades não formam para a profissão. Há um total divórcio entre o que é ensinado em licenciaturas e a realidade do chão da escola.
Fazendo um paralelo com a profissão de médico, cujo curso na universidade tem diálogo constante com a prática, o que fazemos para formar professores seria o equivalente a dar-lhes aulas sobre sociologia da medicina, história da medicina, filosofia da medicina e depois pedir a esses médicos recém-formados que operem um paciente. Evidentemente, não faria sentido algum.
É importante pagar salários melhores e contratar os docentes para jornadas semanais menos fragmentadas e, de preferência, numa única escola.
Urgente também é mudar os currículos das instituições que formam professores. Deveríamos levar adiante a ideia, divulgada no fim do ano passado, de elaborarmos uma base nacional de formação docente, que inclua formação inicial e continuada.
Há muito que ser feito para melhorar a educação. Uma parte será avançar no que já foi decidido, outra será priorizar ações. Nisto, acerta o MEC quando estabelece que a alfabetização deve ser enfatizada, embora, naturalmente, precisamos discutir como fazê-lo.
De resto, um bom ano letivo para todos!
Aula do do professor Paulo Augustinho, 29, no Colégio Santo Antônio de Lisboa com modelo de educação high school
Claudia Costin - diretora do Centro de Excelência e Inovação em Políticas Educacionais, da FGV, e ex-diretora de educação do Banco Mundial.
Fonte: coluna jornal FSP