Quer gastar o seu tempo de forma construtiva? Então
leia o artigo publicado neste mês por Tim Wu na revista "Wired"
chamado "A Crise do Roubo de Atenção". O título é autoexplicativo.
Nele Wu -que é professor na Universidade Columbia- constata que estamos vivendo
um verdadeiro "arrastão" contra uma das nossas principais
habilidades: a capacidade de nos concentrarmos.
Hoje pagamos pelo que consumimos de dois jeitos.
Podemos pagar com dinheiro ou podemos pagar com nossa atenção. Grande parte dos
serviços da internet que utilizamos, como e-mail, redes sociais, aplicativos de
mensagens, não é "gratuita". São pagos com nossa atenção. Mesmo os
veículos de mídia tradicional, como jornais ou TV, são pagos parte em dinheiro
(como assinaturas) e outra parte também com atenção.
O problema é que começa a surgir uma gigantesca
indústria criada para "roubar" essa atenção sem dar absolutamente
nada em troca. São empresas que, sem ter nenhum tipo de consentimento, empurram
publicidade involuntariamente sobre um número cada vez maior de pessoas.
São muitos os exemplos. Algumas cidades brasileiras
já têm táxis que exibem vídeos publicitários para todos os passageiros que
entram neles. Muitos não têm sequer a opção de desligar a tela. O mesmo acontece
com algumas companhias aéreas. Assim que as portas do avião são fechadas,
vídeos comerciais que não foram solicitados por ninguém são exibidos. Outro
exemplo perverso são academias de ginástica que colocam uma tela de TV com
propaganda obrigatória na frente de cada cliente. A tendência espalha-se e já é
visível em elevadores, salas de espera, filas etc.
Em todos esses casos alguém ganha dinheiro com esse
tipo de anúncio. Além da falta de consentimento, a questão é que nada retorna
para quem teve sua atenção roubada. Passagens de avião, corridas de táxi ou
academia não ficarão mais baratas. Nem filas nem elevadores ficarão mais
rápidos ou confortáveis.
Tim Wu lembra que a atenção é um recurso escasso e,
por essa razão, cada vez mais valioso. Cada pessoa tem um capital limitado de
atenção para gastar. Além disso, a expansão da publicidade não consensual eleva
os níveis gerais de estresse, contribui para aumentar a sobrecarga de
informação e afeta em última análise a saúde mental coletiva (há preocupação com
os efeitos especialmente sobre crianças e jovens).
O que fazer? Wu vai direto ao ponto. Ele defende
que as cidades regulamentem esse tipo de mídia invasiva, não consentida. Da
mesma forma como foram regulados os "outdoors" no passado, as cidades
têm capacidade de criar espaços em que a publicidade não consentida é
regulamentada. Em um futuro em que a publicidade digital tende a tomar conta
dos espaços públicos, cidades que caminharem nesse sentido podem se tornar
oásis do livre arbítrio informacional.
Ronaldo Lemos - advogado, diretor do
Instituto de Tecnologia e Sociedade do Rio de Janeiro (ITSrio.org). Mestre em
direito por Harvard. Pesquisador e representante do MIT Media Lab no Brasil
Fonte: coluna jornal FSP