As penas e galinhas do Banco Master
- Caso se soma a outros escândalos recentes como Oi, Ambipar e Reag,
testando a confiança nas instituições financeiras
- CVM e Banco Central enfrentam desafio de investigar rapidamente
para proteger investidores
O saudoso ministro Teori Zavascki, do Supremo Tribunal Federal,
estava espantado com a quantidade de relações e desdobramentos da operação Lava
Jato, quando disse a interlocutores que, naquele processo, "onde se puxa
uma pena, vem uma galinha".
Isso lá em 2015, quando os inquéritos da famigerada ação
chegaram ao STF. Zavascki morreu dois anos depois, sem ver o fim do processo,
com diversas decisões anuladas por motivos como a parcialidade do ex-juiz
Sergio Moro, erros na coleta de provas e incompetência da vara que julgou os
casos.
O novo escândalo do mercado financeiro, que levou à liquidação
do Banco Master pelo Banco Central e à prisão de seu dono, Daniel Vorcaro,
parece mais um desses casos em que cada pena apresenta um novo galináceo ao
poleiro.
A princípio, a discussão no mercado era sobre a circulação de
ativos sem o lastro necessário e promessas de retornos impossíveis. Depois,
veio uma estranha oferta de compra da instituição por parte de um banco
público, o Banco Regional de Brasília, barrada pelo Banco Central.
Agora, são investigados a fabricação de crédito falso e aportes
bilionários de fundos de previdências de estados e municípios, direcionados na
base do lobby e sem garantias —e, possivelmente, sem pagamento também.
A canja tem ainda como ingrediente uma segunda oferta de compra
(por valores maiores do que a barrada pelo BC) pelo grupo Fictor, holding com
diversas áreas de atuação no setor financeiro e fora dele, divulgada algumas
horas antes da prisão de Vorcaro e da decretação da liquidação do banco.
Todas essas "galinhas" apareceram em menos de uma
semana. Mas não saíram do ovo agora. Estavam cacarejando normalmente no mercado
até então.
Resta acompanhar de perto suas relações e desdobramentos, confiando
na capacidade das instituições de investigarem da maneira correta, conduzirem o
processo com lisura e diferenciarem culpados e inocentes, de forma que a conta
chegue na mesa certa e a tempo de ser paga.
O ano de 2025 testa a capacidade do investidor de confiar nas
instituições. Logo antes do escândalo do Banco Master, tivemos a decretação da
falência da Oi, operadora que conseguiu a proeza de entrar duas vezes seguidas
em recuperação judicial e sair ainda mais quebrada.
Dançou com o dinheiro de
mais de 230 mil investidores que tinham suas ações.
Antes disso, outra companhia da Bolsa, a Ambipar, pediu proteção
contra credores logo depois de ter inflado de maneira artificial o preço das
suas ações em 3.000%.
Ainda nos últimos meses, a gestora Reag, que também
negociava seus papeis em Bolsa, ganhou destaque no noticiário com a Operação
Carbono Oculto, em investigação que aponta o uso de estruturas financeiras
ligadas à Faria Lima para lavar bilhões do crime organizado (o famoso PCC).
Pode parecer tudo muito recente, para que se cobre resultados.
Mas a verdade é que celeridade não costuma ser o forte nacional na defesa de
pequenos investidores.
No começo do ano, a PDG Realty virou notícia ao divulgar um
documento falso, com o que seria uma oferta de compra por uma multinacional
chinesa, fazendo o preço das suas ações saltarem na Bolsa.
A Comissão de
Valores Mobiliários, xerife do mercado, anunciou a abertura de um processo
administrativo para investigar o caso em fevereiro. As lojas já estão
enfeitadas para o Natal, mas não há sinal de decisão.