No
final da semana passada, fizemos uma apresentação para cerca de vinte diretores
médicos do sistema de saúde de todo o país. Comecei pedindo que falassem uma
frase ou duas sobre como estavam se sentindo pessoalmente. Durante a meia hora
seguinte, uma enxurrada de respostas apareceu.
“Exausto,
sobrecarregado e ansioso.”
“Estou com
medo e muito cansado.”
“Frustrado e
desanimado.”
“A carga de
trabalho atual é insustentável.”
Estamos
falando de dois contágios – o vírus propriamente dito, e as emoções que ele
provoca. As emoções negativas são tão contagiantes quanto o vírus, e
também tóxicas. A fatiga, o medo e o pânico sabotam a nossa habilidade de
pensar de forma clara e criativa, de lidar com os nossos relacionamentos de
maneira eficaz, de concentrar a atenção nas prioridades corretas e de fazer
escolhas inteligentes e fundamentadas.
Esse impacto se inicia de forma fisiológica. “A carga
alostática” refere-se ao preço do desgaste crônico ou extremo do nosso
corpo, nossa mente e nossas emoções. A sobrecarga alostática
ocorre quando a demanda por nossos recursos internos excede a nossa capacidade.
O medo e a incerteza, alimentados pela crise da Covid-19, estão colocando uma
pressão gigantesca em nossos limitados recursos. As consequências incluem má
tomada de decisões, colapso e Burnout.
Dessa forma, como podemos nos cuidar melhor e criar mais
resiliência?
Uma das maneiras é ter mais conhecimento das diferentes
características que influenciam nossa atitude frente à ameaça e ao perigo. A
parte mais desprotegida, vulnerável e infantil que temos é o “eu” emocional
sobrecarregado. Temos, também, uma parte adulta mais capaz. Da mesma maneira
como um pai amoroso faz com seu filho amedrontado, esse “eu” pode amenizar e
tranquilizar o “eu” emocional. Lamentavelmente, quando nos sentimos
ameaçados, é o nosso “eu” da sobrevivência que age em nossa defesa – de forma
reativa, impulsiva, estabanada e, em geral, contraproducente.
Criamos o modelo dos três “eu” com base em trabalhos que
abordam o impacto do trauma no corpo e no sistema nervoso – particularmente, o
modelo terapêutico “Experiência Somática,” desenvolvido pelo psicólogo Peter
Levine.
No módulo de sobrevivência, nossa visão se restringe à
ameaça, e o nosso córtex pré-frontal se fecha de maneira progressiva. A
reatividade dá lugar à ponderação. A ameaça pode ajudar a mobilizar a atenção,
mas quando se trata da resolução de problemas complexos que contêm muitas
variáveis, precisamos dos nossos recursos cognitivos mais poderosos.
Não podemos mudar aquilo que não notamos; portanto, o
primeiro passo é estarmos mais atentos aos nossos sentimentos em qualquer
instância – ou seja, alimentar a capacidade de observar nossas emoções, em vez
de sermos tomados por elas. O simples fato de citarmos os nossos sentimentos
permite que nos afastemos deles, principalmente quando são negativos e intensos.
O segundo passo é acalmar-se, independentemente do que
está acontecendo à sua volta. Uma forma simples – embora potente – é usar a sua
respiração. Ao inspirar pelo nariz e contar até três, e expirar pela boca
contando até seis, é possível liberar cortisol – o hormônio mais nocivo do
estresse – da corrente sanguínea, em somente um minuto. Movimentar-se também
ajuda. Uma sessão de polichinelos, ou subir e descer as escadas é uma forma
rápida e segura de aliviar o estresse e acalmar o corpo e a mente.
Ao se sentir mais calmo e mais capaz de refletir, é
possível assumir o seu “eu” adulto. Quando incorporamos essa parte forte
e empática de nós mesmos, ela cuida do nosso “eu” sobrecarregado. Você pode
enviar uma mensagem, dizendo “é uma fase difícil, e faz sentido você se sentir
assim”, ou “esse sentimento não vai durar para sempre”, ou “é possível se
sentir melhor, e vou ajudar você.” A atitude mais importante é saber distinguir
entre as suas várias partes para poder chamar a força do seu “eu” adulto, em
vez de se sentir “pego no contrapé” pelo seu “eu” da sobrevivência.
Ao reposicionar o nosso “eu” adulto, é possível mover-se
de uma experiência envolta em ansiedade e medo para um lugar mais calmo, onde
podemos segurar e conter nosso “eu” mais vulnerável, para que ele não se sinta
sobrecarregado.
Em contrapartida, a maioria de nós omite o viés da
confirmação. Procuramos evidências que embasem nossos piores medos e não
consideramos o resto. Ao reagirmos de maneira impulsiva em nossa própria
defesa, em geral pioramos a situação, limitamos nossas opções e afastamos as
pessoas.
Quando nosso “eu” adulto assume o controle, podemos
também recuar e ampliar a nossa perspectiva, o que nos possibilita fazer a
distinção entre os fatos em determinada situação e as histórias que eventualmente
estamos nos contando. Um fato é algo que pode ser verificado de forma objetiva
por ser irrefutável. Já, uma história é algo que criamos para dar sentido aos
fatos, e pode ser – ou não – factual.
Ao saber dessa distinção, vale fazer a seguinte
pergunta: “O que mais pode ser verdade nisso tudo?” Em vez de enxergar a crise
da COVID-19 como algo catastrófico, aproveite para se conectar com seu “eu”
adulto, escolhendo focar naquilo que você pode modificar e esqueça o resto.
Tony Schwartz - presidente e CEO da empresa The Energy Project e
autor do livro “The way we’re working isn’t working”. Curta a nossa
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Emily Pines - gestora da empresa The Energy
Project.
Fonte:
Harvard Business Review