Lei do SAC ajudará a equilibrar as
relações de consumo
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Não há como negar que a chamada Lei do SAC, que vai
completar nove anos em dezembro, melhorou o nível do atendimento ao consumidor.
Principalmente porque reduziu a espera e o jogo de empurra na hora da
reclamação, solicitação de assistência técnica ou cancelamento de um contrato.
Há, contudo, frequentes desrespeitos às
determinações do decreto. Além disso, a fila andou, os tempos mudaram e
surgiram outros inconvenientes, como ter de esperar inúmeros 'comerciais' de
produtos e serviços antes de ser atendido. Temos que aperfeiçoar já a Lei do
SAC, considerando também os avanços tecnológicos desta década.
Essa venda em meio ao atendimento, por exemplo,
ocorre porque a lei só abrange serviços regulados pelo poder público federal
–como telecomunicações, bancos, planos de saúde, TV por assinatura, saneamento,
aviação civil e energia elétrica. Não há mais justificativa para limitar a
abrangência da regulamentação deste canal de atendimento.
Também seria possível simplificar mais o menu de
teles e outras companhias que têm muitos produtos. Uma triagem mais eficaz
economizaria tempo e paciência do consumidor.
Da mesma forma, somos constantemente consultados
sobre atualização de nossos telefones e e-mails de contato. Quem liga porque
está com problemas de conexão com a internet ou pela má qualidade na recepção
da TV paga (dentre outros problemas) espera solucionar essas questões mais
rapidamente.
Mais recentemente, o cliente tem sido convidado a
avaliar o atendimento recebido. Seria importante diferenciar as avaliações do
atendente e da empresa. Não é incomum que reconheçamos o empenho de quem nos
atendeu, mas continuemos insatisfeitos com a sucessão de falhas da companhia.
Isso deveria ficar bem claro para evitar confusões entre profissionais e
empresas.
São louváveis, portanto, os esforços da Senacon
(Secretaria Nacional de Defesa do Consumidor), que criou um grupo de trabalho
para apresentar propostas de aperfeiçoamento ao decreto do SAC. Melhorias neste
atendimento repercutirão positivamente também para as empresas, pois o padrão
médio dos serviços no Brasil ainda é muito ruim.
E não faltam exemplos de como o consumidor é
desrespeitado: recentemente, uma tele enviou, por SMS, aviso de que um de seus
planos de telefonia móvel com acesso à internet seria descontinuado, e que os
clientes teriam de migrar para outro, mais caro. No mínimo, deveriam informar
melhor sobre a mudança e oferecer uma opção mais barata para quem não tivesse
condições de pagar o novo valor da mensalidade.
Ainda estamos muito longe do equilíbrio nas
relações de consumo. Melhorar a Lei do SAC será um grande avanço neste sentido
Maria Inês Dolci - advogada, é especialista em
direitos do consumidor.
Fonte: coluna jornal FSP