As notícias sobre o jogo da Baleia Azul provocaram
diferentes reações na sociedade. Primeiramente, elas colocaram na ordem do dia
as reflexões e os debates a respeito do suicídio. Sabemos que o índice de
suicídio vem crescendo no mundo todo, em todas as faixas etárias, em especial
entre os jovens e adolescentes.
O Brasil segue essa tendência global, e o tema
costuma ser tratado como tabu, ou melhor, não costuma ser tratado. A polêmica
em torno da "Baleia Azul", portanto, provocou pelo menos uma
consequência produtiva. Falar sobre o suicídio, um assunto tão inquietante e
espinhoso, é bem melhor do que silenciar.
São diversas as razões que nos levam a evitar
conversas a respeito desse tema, mas a principal delas é o receio de colocar o
suicídio em evidência para os jovens e, sem querer, apresentar essa
possibilidade como uma saída para quem vive um problema –ou vários. Entretanto,
o silêncio é ainda pior: é como se negássemos a existência dessa possibilidade,
em vez de enfrentá-la.
Pois bem: logo após o primeiro impacto da Baleia
Azul, que afetou famílias com filhos adolescentes, mudamos o jogo. Na internet,
bem como nas rodas de amigos e conhecidos –presenciais e virtuais–, piadas e
caricaturas do jogo começaram a mostrar uma outra face de nossas posições em
relação aos mais jovens.
Primeiramente, um chinelo de dedo com a tira azul
substituiu a baleia e se propagou rapidamente pela internet, sugerindo que o
que os adolescentes que se aproximam de jogos perigosos precisam mesmo é de
castigo para aprender a viver.
Logo após esse "meme", surgiu um outro
que, no lugar da baleia, mostra uma carteira de trabalho com o texto "É
dessa baleia azul que os adolescentes precisam". Curioso como a ideia de
trabalho se aproxima à de castigo, não é?
Esses exemplos mostram o nosso despreparo para
lidar com os adolescentes. Nós, que passamos a adolescência em um mundo com
características diferentes do atual, ainda achamos que eles devem ser tratados
como fomos –ou como imaginamos que fomos.
A maioria dos adultos não se lembra das angústias e
inquietações que viveu nessa fase da vida e, por isso, trata com um certo
desdém o sofrimento dos jovens.
Vamos relembrar: os adolescentes, no presente,
sofrem uma pressão desmedida para que tenham sucesso escolar e pessoal, além de
boa aparência, segundo determinados modelos; para que sejam populares; para que
participem de determinados grupos sociais, e para que sejam felizes, muito
felizes, porque damos "tudo o que não tivemos" a eles! E isso tudo é
somado às inquietações de quem vive um momento de crise. Crescer dói, é preciso
que lembremos sempre disso!
O que nossos jovens e adolescentes querem e
precisam –e que pouco temos ofertado– é a nossa presença verdadeiramente
interessada na vida deles.
Precisamos desenvolver empatia e compaixão pelos
adolescentes: tentar trazer para nós o lugar que eles ocupam nesta época da
vida para nos aproximarmos deles com intimidade, sem, porém, invadir sua privacidade;
para dialogar sem moralismos; ouvir com atenção e interesse o que dizem
abertamente e aprender a ler o que dizem nas entrelinhas.
"Conte comigo sempre." É essa a mensagem
que cada jovem e adolescente precisa ouvir dos adultos, principalmente dos pais
e professores
Rosely Sayão - psicóloga e consultora em educação, fala
sobre as principais dificuldades vividas pela família e pela escola no ato de
educar.
Fonte: artigo jornal FSP