Sabemos da importância de poupar para o futuro e, quanto mais
cedo iniciarmos essa poupança, menor será o esforço. Em artigo recente, usei o
valor emblemático de R$ 1 milhão para o exemplo. Mas será que R$ 1 milhão
resolve o problema? Quanto vale R$ 1 milhão daqui a 20 anos? Muito ou pouco
para garantir uma aposentadoria tranquila?
Aqui
estou às voltas com os números de novo. Sem eles, não saberemos se poupamos o
suficiente para o futuro. A ideia é não poupar muito, deixando de desfrutar a
vida no presente, nem pouco, achando ser suficiente e descobrir, tarde demais,
que deveria ter poupado mais para ter a renda de que precisa.
A
primeira estimativa a ser feita é: uma vez aposentado e deixando de receber a
renda proveniente do trabalho, de quanto eu preciso para viver? Tenho outras
rendas para substituir a renda do trabalho, como INSS e imóveis alugados? Qual
o valor da renda mensal complementar para fechar seu orçamento?
Cada
um vai encontrar uma resposta, de acordo com seu padrão de vida, do valor das
receitas e despesas de cada pessoa ou família.
Marcos, por exemplo, tem 35 anos e sua expectativa é manter o
total das despesas mensais em R$ 10 mil ao longo do tempo. Acha que vai gastar
menos com educação, transporte e alimentação, mas sabe que as despesas com
saúde e lazer vão aumentar. Conta com uma pensão por aposentadoria de R$ 5.000
mais R$ 2.000 de um imóvel alugado. Assim, precisa investir para garantir uma
renda complementar de R$ 3.000.
Sabemos
que a inflação altera os valores futuros, seja na ponta da despesa, seja na da
receita. Para compensar o impacto da inflação, proponho projetar a valorização
do investimento com juros reais. Estimada uma inflação anual de 5%, em vez de
usar juro nominal de 8%, por exemplo, proponho usar juro real de 3% para
projetar os rendimentos.
Definido
o valor da renda complementar, Marcos pode calcular quanto deve poupar
mensalmente, dos 35 aos 65 anos, idade em que pretende se aposentar. Ele
precisa acumular capital suficiente para prover saques mensais de R$ 3.000 por
25 anos, dos 65 aos 90 anos, quando o capital acumulado estará esgotado.
Assim,
o período de investimento será de 30 anos (360 meses), dos 35 aos 65 anos. Os
juros reais, de 3% ao ano (0,25% ao mês). O período de desinvestimento (resgate
mensal de R$ 3.000) será de 25 anos, dos 65 aos 90 anos.
A
tabela informa quanto deve ser poupado por mês para acumular dinheiro
suficiente para sacar uma renda mensal de R$ 1.000, até os 90 anos, em três
cenários de idade de aposentadoria, mais três cenários de idade de início da
poupança.
Marcos
localizou na primeira coluna da tabela a idade de aposentadoria, quando
iniciará os saques (65). Em seguida, localizou sua idade atual (35), a partir
da qual os investimentos mensais serão feitos. Encontrou o valor de R$ 362,
referente a saques de R$ 1.000. Como fará saques de R$ 3.000, multiplica esse
valor por 3, ou seja, R$ 1.086/mês.
Marcos
ficou assustado com o número, seu orçamento atual não está preparado para uma
aplicação mensal nesse montante. Vai rever suas prioridades, reduzir algumas
despesas, cortar outras. Sabe que esse é o valor médio mensal a ser investido,
assim, pode começar com menos e fazer aportes extraordinários sempre que tiver
renda extra, como parte do 13º salário, gratificações, restituição do Imposto
de Renda.
Se
não for possível, provavelmente adiará sua aposentadoria para os 70 anos, com
aplicações mensais de R$ 729 (R$ 243 x 3). Ou fará resgates menores no futuro,
comprometendo sua qualidade de vida. Seu desafio será o de equilibrar as
finanças do presente para bancar suas necessidades futuras.
Marcia Dessen - planejadora financeira pessoal,
diretora do Planejar e autora do livro 'Finanças Pessoais: o que Fazer com Meu
Dinheiro'.
Marcia Dessen - planejadora financeira pessoal,
diretora do Planejar e autora do livro 'Finanças Pessoais: o que Fazer com Meu
Dinheiro'.
Fonte: coluna jornal FSP