O desespero dá dinheiro, mas não para você


É tempo de se preparar para os próximos dias cinzas do mercado de ações

Recorde atrás de recorde. Da motorista de táxi ao presidente da multinacional, a conversa era: “Será que o Ibovespa vai bater 100 mil?” Depois, 110 mil, 120 mil. E quando o céu parecia azul demais, veio uma quarta-feira cinza. Justamente a que sucede ao Carnaval.

O Ibovespa caiu7%. A sensação de estar perdendo dinheiro ao ver os preços das ações despencando tomou conta das conversas sobre o mercado. Mas é bom lembrar que não passa disso: pura sensação. Quem não vendeu as ações mais barato do que comprou, ainda não teve prejuízo.

A verdade é que é mais lucrativo para as instituições financeiras (e mais emocionante para o noticiário), acompanhar omercado de ações como se fosse uma corrida de cavalos. “Compre”, “venda”, disparam especialistas em investimentos de bancos e corretoras, que ligam para os clientes de bancos e corretoras para oferecer a nova sacada ou explicar a queda do rendimento.

Em sua maioria, bancos e corretoras ganham com a movimentação. É a chamada taxa de corretagem. Se você já investe em ações, procure o quanto foi pago por “corretagem” na última nota. E, como parte da receita dos bancos e corretoras vai para os profissionais, é bom para o bolso deles que tenha compra e venda o tempo todo.

 Assim, o mercado do desespero fica lucrativo. Mas não para você.


Conservador: Preza estabilidade. Quer saber qual será o rendimento ao fim do mês, sem risco de perdas. No passado, mantinha toda a carteira em renda fixa, mas, com a queda da rentabilidade, analistas recomendam uma pequena alocação em fundos multimercado Gabriel Cabral/Folhapress

O novo inimigo número um do mercado parece ser o coronavírus. Fábricas estão com atividades suspensas nos locais de surto da doença, afetando a produção e a vida das pessoas. A economia real.

No Brasil,haviam sido confirmados dois casos, quando, numa leitura rápida, o vírus já teria servido para derrubar o valor de mercado até de empresas que nada têm a ver com turismo, exportação ou importação.

Além do boom de vendas de máscaras deproteção e álcool gel, muitos aproveitaram a movimentação no mercado internacional para também se desfazer deações que estavam negociadas a preços altos, depois dos tantos recordes do Ibovespa. Com isso, os preços caem e quem vê os números na tela pode ficar tentado a vender antes que despenquem ainda mais.

O “efeito manada” é muito estudado por especialistas nesse mercado. E tende a ser ainda mais sentido no Brasil, uma vez que o número de investidores “pessoas físicas” na bolsa triplicou em dois anos. Já são quase 2 milhões de pessoas no nosso mercado de ações. Enquanto os grandes players, investidores institucionais, possuem equipes que avaliam cada nuance do mercado, evitando tomar decisões emocionais, gente como a gente é mais suscetível a seguir tendências.

Mercado do touro

Quem chegou à bolsa nessa última leva, só conheceu o que chamam de “bull market”, com alta atrás de alta. Agora, suas estratégias são testadas com algumas baixas.

Aproveitar a baixa para comprar ações de empresas que já estão no seu radar é uma ótima ideia. Ainda assim, é acreditar que o mercado vai subir.

Na fatídica quarta-feira de cinzas, alguns fundos fizeram dinheiro por estarem vendendo ações a descoberto, o chamado “short”. Funciona assim: em vez de comprar ações, alugam, pagando uma taxa por isso. E as vendem, apostando que os preços vão cair. Ao fim do período do aluguel, compram de volta os papéis e “devolvem” para os donos. Ficam com a diferença entre o preço pelo qual venderam as ações e o valor que pagaram para comprá-las de volta.

Qualquer investidor, aliás, pode alugar papéis ou oferecer os seus para o aluguel, que é intermediado pela B3, a bolsa.

Mas ganhar só na alta ou só na baixa é uma opção muito arriscada. A virtude, como dizem os budistas, parece estar no caminho do meio. Criar uma carteira de investimentos que dê resultados quando o ponteiro da bússola aponta para qualquer dos lados.

Caminho do meio

Um bom jeito de equilibrar a carteira é ter também investimento em dólar e em ouro, recomendam os especialistas no mercado financeiro. São dois ativos que costumam seguir a linha contrária do mercado de ações. Se os papéis estão caindo, valoriza-se os bens que oferecem segurança. E esses dois servem de lastro para a economia mundial.

Você não é nenhum pirata para sair por aí carregando um baú com moedas de ouro. O jeito de colocar suaseconomias em ouro no século XXI é por meio de contratos de ouro, vendidos pelas corretoras. É possível comprar contratos equivalentes a uma barra de 250g ou a frações menores do metal. Há ainda fundos de investimento com rendimento atrelado à variação do ouro. A opção por fundos pode ser mais prática, mas é sempre importante ficar atento à taxa de administração cobrada.

 Uma opção mais familiar para quem já está no mercado de ações é simplesmente comprar papéis de empresas que têm a maior fatia de sua receita em exportações. Os ganhos delas já estão em dólar e suas contas tendem a acompanhar o preço da moeda estrangeira, caso sejam lucrativas. Vale lembrar que os prejuízos também serão em dólar.

 

 Ouro e dólar oscilam (e muito) também. Outras quartas-feiras serão cinzas para eles e para o mercado de ações. O importante é ter uma estratégia bem traçada e pensar no futuro.

Até hoje, não houve queda da bolsa que não tenha sido recuperada depois de alguns meses. Quem vendeu na baixa das últimas crises, como da Sars, em 2002 e 2003, perdeu dinheiro que poderia ganhar no longo prazo.

Então não vá você fazer do espirro uma febre. Trace uma estratégia sólida, planeje seu futuro e tome bastante líquido

Marcos de Vasconcellos - jornalista, empreendedor e fundador do site Monitor do Mercado.

Fonte: coluna jornal FSP

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