Tem muita gente de olho no seu FGTS


Nos próximos meses, você e milhões de brasileiros terão a oportunidade de sacar o dinheiro aprisionado nas contas inativas do FGTS. E tem muita gente de olho no seu dinheiro, doida para abocanhar um pedaço dessa grana. A começar pelo governo, que quer que você gaste, que consuma, para ajudar a aquecer a economia.

Os bancos vão te atacar por duas frentes. Estão esperançosos de que você use o dinheiro para pagar dívidas e resolvam o problema deles, de atraso nos pagamento e inadimplência, por falta de pagamento.

Também vão oferecer uma linha de crédito que antecipa uma boa parte do saldo do FGTS, para pagamento único até o fim de agosto (o prazo para liberação dos saldos termina em julho, lembra?), com juros na faixa entre 4% e 5% ao mês. Juros mais baixos que os praticados no mercado, mas ainda altos, considerando a operação de baixo risco para o banco.

Muita calma nessa hora. Seu dinheiro vale muito, está sendo disputado a tapa. Mas, antes de fazer qualquer coisa com ele, pense muito bem e prepare-se para valorizar cada centavo.

Pagar dívidas é a recomendação mais frequente. Será que é mesmo a melhor coisa a fazer? Depende das condições que a instituição financeira vai lhe oferecer. Não entregue uma bolada sem receber nada em troca. Se o credor não estiver disposto a conceder um bom desconto, mantenha a dívida e se organize para pagá-la no prazo contratado inicialmente.

Quando você contraiu a dívida, não tinha a perspectiva de usar o dinheiro das contas inativas do FGTS para quitá-la, não é? Se você propuser ao credor a mera antecipação do pagamento sem nenhuma vantagem para você, talvez seja um bom negócio apenas para o credor.

Na falta de um acordo vantajoso, aproveite esse dinheiro extra para organizar suas finanças, recompor sua reserva financeira, planejar seus gastos e se fortalecer para a travessia dos próximos meses, que será ainda muito difícil, com a recuperação lenta do crescimento econômico e da oferta de emprego.

A Caixa é o único banco que sabe quem tem dinheiro nas contas inativas do FGTS. Os outros não sabem e vão te assediar na esperança de que você faça negócio com eles, seja pagando o que deve, seja contraindo novo empréstimo para antecipar esse recebimento. Fique ligado!

O varejo vai te seduzir fortemente com ofertas tentadoras, negócio da China que há tempos você não vê. Os estoques estão altos, e o caixa dos lojistas, baixo. E você é visto como o salvador da pátria que vai aproveitar as ofertas e deixar parte do seu dinheiro lá. Descontos enormes (a conferir), pagamento em muitas parcelas, a perder de vista, compre agora e comece a pagar somente quando sacar seu FGTS são algumas das abordagens comerciais para atrair e convencer você a gastar dinheiro com consumo.

Muito cuidado! Não caia em tentação, compre apenas o absolutamente necessário. A economia ainda vai demorar um bocado para se recuperar. Se você está desempregado, definitivamente não é um bom momento para consumir.

Investir, pensando no futuro, faz todo sentido. Poupar para compor ou recompor sua reserva financeira, sábia decisão. Aplicar esse dinheiro na poupança vai garantir o dobro dos juros que você ganhava. O FGTS remunera 3% ao ano de juros, enquanto a poupança paga 6,17% -além da TR, nos dois casos.

Atenção em relação às alternativas de investimento que cobram taxa de administração, taxa de custódia, corretagem, e estão sujeitas ao pagamento do Imposto de Renda. Pesquise muito antes de investir para pagar o menor custo possível, caso contrário, você pode acabar ganhando menos do que a poupança.

Planos de previdência são os mais caros. Fundos de investimento que aceitam valores baixos de aplicação, também. Depósitos bancários (CDB, RDB) podem oferecer rentabilidade menor do que a poupança depois do Imposto de Renda. Tesouro Direto é sua melhor chance de receber rentabilidade alta com baixo risco.

Não se esqueça de liberar também o dinheiro aplicado em ações da Vale e da Petrobras. Você pode vendê-las, esperar momento mais adequado para fazer isso ou mudar para fundos de ações com maior diversificação de carteira.

Marcia Dessen - planejadora financeira pessoal, diretora do Planejar e autora do livro 'Finanças Pessoais: o que Fazer com Meu Dinheiro'.

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