Desde
a Antiguidade, o fugidio conceito de sabedoria figura com destaque em textos
filosóficos e religiosos. A questão continua intrigante: o que é sabedoria e
como ela se dá na vida de cada um?
Vivian Clayton, neuropsicóloga de Orinda (Califórnia)
especializada em geriatria, desenvolveu na década de 1970 uma definição de
sabedoria que, desde então, serve como fundamento para pesquisas sobre o tema.
Após vasculhar textos antigos, ela observou que a maioria das pessoas descritas
como sábias tinha a tarefa de tomar decisões. Então ela pediu a um grupo de
alunos e professores de direito e juízes aposentados que citasse as
características de um sábio, chegando à conclusão de que a sabedoria consiste
de três componentes principais: cognição, reflexão e compaixão.
As pesquisas mostram que a função cognitiva se desacelera com o
envelhecimento. Mas um recente estudo publicado na revista "Topics in
Cognitive Science" observou que pessoas mais velhas têm muito mais
informação em seus cérebros que as mais jovens e que a qualidade da informação
no cérebro mais velho é mais nuançada. Segundo Clayton, leva tempo até que a
pessoa chegue a conclusões e pontos de vista adequados com base em seu
conhecimento cognitivo, o que a torna sábia. Só então é possível usar essas
conclusões para entender e ajudar os outros.
Monika Ardelt, professora da Universidade da Flórida, sentiu a
necessidade de ampliar os estudos sobre a velhice por causa de pesquisas que
demonstram que a satisfação no final da vida consiste em coisas como manter a
saúde física e mental, fazer atividades voluntárias e ter relações positivas
com os outros. Mas isso nem sempre é possível. A sabedoria, concluiu, é o que
pode ajudar até mesmo pessoas severamente incapacitadas a encontrarem sentido,
contentamento e aceitação na vida.
Ela desenvolveu uma escala que consiste em 39 perguntas
destinadas a mensurar três dimensões da sabedoria. As pessoas que respondiam às
afirmações na escala de Ardelt não eram informadas de que sua sabedoria estava
sendo medida. Depois, os participantes responderam a perguntas sobre desafios
hipotéticos, e aqueles que haviam demonstrado indícios de grande sabedoria
também se mostravam mais propensos a lidarem melhor com os problemas.
Um impedimento à sabedoria é pensar que "não suporto quem
sou hoje, porque não sou mais quem eu era", disse Isabella Bick,
psicoterapeuta que, aos 81 anos, ainda trabalha em período parcial em Sharon
(Connecticut). Ela tem clientes idosos que ficam incomodados com a percepção de
piora na sua aparência, no seu desempenho sexual e nas suas capacidades. Para
eles, aceitar o envelhecimento é necessário para crescer, mas "não é uma
aceitação resignada, é uma aceitação que abraça", afirmou ela.
A pesquisa de Ardelt mostra que as pessoas em casas de repouso
que obtêm notas mais elevadas na escala de sabedoria também relatam uma maior
sensação de bem-estar. "Se as coisas estão realmente ruins, é bom ser
sábio."
A sabedoria é caracterizada por uma "redução no caráter
autocentrado", disse Ardelt. Pessoas sábias tentam entender situações sob
múltiplos pontos de vista e por isso demonstram mais tolerância.
Daniel Goleman, autor do livro "Inteligência
Emocional", disse que um sinal importante de sabedoria é a
"geratividade", termo cunhado pelo psicólogo Erik Erikson, que
desenvolveu uma influente teoria sobre os estágios da vida humana.
"Geratividade" significa dar sem a necessidade de receber nada em
troca, disse Goleman.
Ele entrevistou Erikson e a mulher dele, Joan, no final da
década de 1980, quando já eram ambos octogenários. A teoria de Erikson sobre o
desenvolvimento humano inicialmente incluía oito estágios, da infância à
velhice. Quando o próprio casal Erikson se tornou idoso, no entanto, eles viram
a necessidade de acrescentar um nono estágio, no qual a sabedoria desempenha um
papel crucial. "Eles retratam uma velhice em que a pessoa tem suficiente
convicção da própria completude a ponto de afastar o desespero que a
desintegração física gradual pode acarretar", disse Goleman.
"Até mesmo atividades cotidianas podem apresentar dificuldade",
escreveu Joan Erikson em uma versão ampliada do livro "O Ciclo de Vida
Completo", escrito por seu marido. "É preciso aderir ao processo de
adaptação. Com o tato e a sabedoria que pudermos reunir, as incapacidades devem
ser aceitas com leveza e humor".
Phyllis Korkki – colunista do jornal New York Times
Fonte: suplemento NYT do jornal Folha de São Paulo