Educação, raça e a economia brasileira
- Baixa qualidade da educação e desigualdade racial são problemas
econômicos e sociais
- Há efeitos diretos na nossa economia, como baixo crescimento e
pouca capacidade de inovação
O debate sobre a retomada consistente do
crescimento econômico no Brasil é um tema persistente. Desde os anos 1980, o
país tem enfrentado uma trajetória de baixo crescimento, com poucos períodos de
prosperidade, especialmente se comparado a outras economias emergentes.
Especialistas apontam diferentes caminhos para mudar esse cenário, como
reformas econômicas, mais investimentos em infraestrutura, estímulos à
indústria e à inovação tecnológica, elevação da produtividade, entre outros.
Além desses fatores, destaca-se a educação, peça primordial para sustentar os
ganhos de produtividade. Todavia, a qualidade, especialmente, da educação
básica, segue sendo um ponto frequentemente negligenciado.
Essa omissão, por sua vez, pode ser sentida
diretamente na economia, como baixo crescimento e a pouca capacidade de
inovação.
Cabe destacar que, é crucial formar cidadãos conscientes e críticos
da sua realidade, mas, em paralelo, é preciso preparar uma força de trabalho
capaz de sustentar uma nação competitiva.
A conta é simples: alunos que saem da
escola com deficiências graves em leitura e matemática enfrentam maiores
obstáculos para adquirir novas habilidades, ocupar postos de trabalho de maior
complexidade e, consequentemente, contribuir para a geração de riqueza.
No contexto brasileiro, esse tema ganha um peso
maior com a desigualdade racial. Em média, jovens negros e negras enfrentam
proporcionalmente maiores barreiras ao longo de seu trajeto escolar.
Em geral,
frequentam escolas com estrutura precária, falta de recursos e professores
desmotivados, além de conviverem com o preconceito, que se reflete tanto no
desempenho como na perspectiva de futuro.
Diante desse cenário, fica o
questionamento: qual será o papel do jovem negro no crescimento econômico do
país?
Pensar a baixa qualidade da educação, somada à
desigualdade racial, vai além de um problema econômico, é também um desafio
social.
Quando um país impede que parte da sua população tenha acesso a uma
educação de qualidade, ele não só reduz as chances de crescimento, mas também
reforça injustiças sociais e econômicas históricas.
O futuro da economia
brasileira depende, em parte, da plena inclusão desses jovens em seu plano de
expansão econômica.
Não haverá inovação, competitividade ou prosperidade
sustentada enquanto houver barreiras raciais a definir quem terá ou não acesso
a oportunidades, e assim tendo desperdício de potenciais talentos, limitando a
inovação e comprometendo a competitividade.
Reconhecer
o papel do jovem negro na construção do Brasil vai além de uma questão
econômica, é um compromisso social urgente, inadiável e inegociável.
Para isso,
não basta criar e reformular políticas públicas afirmativas, é preciso também
mudar como a sociedade enxerga e valoriza esses jovens.
Afinal, o país não pode
esperar um futuro melhor enquanto continua a deixar de lado aqueles que podem
ser os verdadeiros protagonistas dessa transformação.
DANILO FERREIRA - doutor em Economia Aplicada pela UFPB e docente do curso de Ciências
Econômicas da UERN