Nunca antes na história deste
planeta, tantos setores e subsetores econômicos passaram por rupturas tão
rápidas de seus modelos de negócios como nos últimos 10 anos. No Brasil não foi
diferente. Para me limitar ao setor de turismo, sites de vendas de passagens
mudaram radicalmente o negócio das agências de viagem, o Airbnb ameaça os
negócios dos hotéis e o Uber trouxe uma concorrência antes inexistente aos
taxistas e suas cooperativas.
E se,
ao invés de uma revolução, o seu setor estivesse sujeito aos impactos de quatro
revoluções ao mesmo tempo? É exatamente o que vai acontecer com o setor de
saúde no Brasil. As mudanças serão radicais e irreversíveis, transformando
completamente o negócio, a forma de atuação e as perspectivas para todos no
setor.
A primeira revolução será
tecnológica.
No
passado, a tecnologia para tratamentos de saúde era baixa, assim como os custos
e o acesso de doentes a tratamento. Com o passar do tempo, a tecnologia evoluiu
cada vez mais, encarecendo exponencialmente os tratamentos, o que continuou a
impedir que muitos tenham acesso aos tratamentos ainda hoje. A grande mudança
atual é que várias das novas tecnologias médicas digitais em desenvolvimento
não apenas melhorarão os tratamentos, mas também os baratearão, tornando-os
mais acessíveis. Tratamentos e técnicas de monitoramento antes disponíveis só
em grandes centros médicos estão sendo transferidas para consultórios médicos e
até para a casa ou o corpo do próprio paciente. Equipamentos, software e
aplicativos de monitoramento à distância permitirão grandes avanços no
tratamento de doenças cardíacas, asma e diabetes. Uso de tele-saúde permitirá
grandes reduções de custo em tratamentos de rotina e psicológicos – o médico e
o paciente não precisarão mais necessariamente estar no mesmo lugar para
diagnósticos e tratamentos. Plataformas eletrônicas de monitoramento e
aconselhamento ajudarão pessoas a modificarem seu comportamento, tornando, por
exemplo, o combate à obesidade e ao fumo e melhoras de qualidade de vida mais
baratas e eficientes.
A segunda revolução é econômica.
Na
última década, a queda da taxa de juros barateou o crédito e o dólar baixo
barateou produtos importados, permitindo que equipamentos que antes só podiam
ser comprados por grandes hospitais fossem adquiridos por consultórios médicos.
Isto trouxe aos médicos a oportunidade de transformar consultórios individuais
em clínicas especializadas com vários profissionais, transformando-os em
empresários. Em muitos casos, isto ocorreu sem que eles recebessem nenhuma
capacitação administrativa ou financeira. As recentes altas dos juros e dólar
trouxeram desafios importantes para parte destas clínicas.
A terceira revolução é
socioeconômica.
Nos
últimos 10 anos, quase 60 milhões de brasileiros entraram nas classes A, B e C.
Com maior renda e a baixa qualidade dos serviços públicos de saúde no país,
eles passaram a demandar serviços privados de planos de saúde, hospitais,
farmácias, laboratórios e médicos.
O número de usuários de planos
de saúde, por exemplo, cresceu em mais de 20 milhões de pessoas entre 2002 e
2012. Recentemente, este processo foi revertido pela crise econômica e o
aumento do desemprego. No entanto, como só 25% dos brasileiros têm um plano de
saúde privado - comparado com 84% dos americanos - ele deve ser retomado quando
a economia recuperar-se. Além disso, a procura por serviços de saúde privados
também deve crescer porque o inevitável ajuste das contas públicas limitará os
recursos disponíveis no setor público.
A quarta revolução é demográfica.
Com a
queda da taxa de natalidade e o crescimento da expectativa de vida, a população
brasileira envelhecerá rapidamente nas próximas décadas. No ano passado, mais
de 30% dos brasileiros tinham até 18 anos e apenas 12% tinham 59 anos ou mais.
Em 15 anos, já haverá mais mulheres com 59 anos ou mais do que com 18 anos ou
menos. Em 2060, haverá o dobro de brasileiros e o triplo de brasileiras com 59
anos ou mais do que com 18 anos ou menos. Nos próximos 45 anos, a participação
de idosos na população brasileira vai triplicar. A procura por especialidades
médicas mudará completamente. Precisaremos de muito mais geriatras e muito
menos pediatras. Dentro de cada especialidade médica, as doenças e problemas
mais comuns também mudarão. Por exemplo, haverá menos casos de estrabismo, mas
mais casos de catarata.
Em resumo, se você acha que
turismo e transporte mudaram muito nos últimos anos, imagine o que vai
acontecer com a Saúde no Brasil.
Você está preparado?
Ricardo Amorim - apresentador do Manhattan Connection da Globonews, colunista da revista IstoÉ, presidente da RicamConsultoria.