Dívida, faca de dois gumes
Dívida
não planejada deixa o cobertor mais curto e amplia risco de inadimplência
Tomar dinheiro emprestado traz alívio imediato,
ajuda a sair do sufoco quando não há recursos para
uma emergência, um desiquilíbrio financeiro.
Mas, se por um lado
alivia, por outro representa um problema a ser prontamente resolvido.
Se alguém precisa parcelar a fatura do cartão ou recorrer a um
empréstimo, é porque não tem caixa nem economias, todo o salário
está comprometido com as despesas básicas e recorrentes de cada mês.
Antes de contrair o empréstimo, buscando o alívio
imediato, muitos não pensam em com que
dinheiro o empréstimo será pago. Sabemos como essa história termina,
e não termina bem.
Milhões de
brasileiros estão endividados. Muitos estão inadimplentes, ou seja,
com dívida vencida e não paga.
E outra dívida é contraída, mais cara do que a
primeira e a segunda, aumentando o rolo compressor que vai tirar o sono e o
sossego de quem segue por esse caminho.
Dois erros explicam como essa situação foi criada.
Primeiro, a falta de controle das despesas, quando deixamos de impor e
respeitar limites, consumindo além dos recursos disponíveis.
E lembre-se de que
cheque especial
ou cartão de crédito não é dinheiro disponível.
Quando a dívida decorre de uma emergência, um gasto
elevado e imprevisto, sem que haja uma reserva financeira, a dívida pode ser
inevitável.
Entretanto, é preciso refletir como essa dívida será paga, que
despesa será cortada ou reduzida, para quitá-la rapidamente.
Pedro fez um crédito consignado que será pago em 12
parcelas de R$ 350, ou seja, seu salário será reduzido em R$ 350 pelos próximos
12 meses.
Para se ajustar a essa nova realidade, já sabe que despesas serão
cortadas ou reduzidas: uso do celular, refeições fora de casa e saídas com os
amigos depois do trabalho.
A mesma conduta deve ser adotada seja qual for a
modalidade de crédito, aliás, maior será o controle, já que o pagamento
dependerá de seu comando.
Os que não fazem esse planejamento ficam
inadimplentes, sentem a dor do corte afiado da segunda lâmina da faca, a que
cobra o retorno do dinheiro emprestado, acrescido de juros elevados.
Para sair do sufoco, é preciso encontrar uma
solução, reduzindo despesas ou aumentando a renda, fazendo um trabalho extra,
vendendo algo que tenha valor.
Sei que é fácil falar e difícil fazer, mas não
tem outro jeito. Aprender com os erros, evitando cair em novas armadilhas, faz
parte do aprendizado.
Nem toda dívida é ruim. Quando o empréstimo ou financiamento
possibilita a compra de um bem que irá produzir renda ou reduzir despesa, pode
ser uma solução a ser adotada.
A parcela de um financiamento
imobiliário, por exemplo, substitui total ou parcialmente a despesa
do aluguel, além de proporcionar uma enorme conquista, a compra da casa
própria, sonho de muita gente.
Um profissional pode financiar a compra de um
equipamento que permitirá oferecer produtos ou serviços, gerando receita
estável e suficiente para quitar o saldo devedor. Uma vez quitada a dívida, se
beneficiará integralmente da nova fonte de receita.
Esse é o crédito bom, que constrói patrimônio, que
gera renda, que contribui para o crescimento econômico do indivíduo e da
economia como um todo.
Não pagar a dívida tem sido a saída equivocada de
muitos cidadãos que perdem o acesso ao crédito e se submetem a aceitar
empréstimo de instituições financeiras que cobram taxas abusivas.
Pense muito bem antes de usar essa faca,
assegure-se de que está construindo sua própria riqueza e garantindo seu
bem-estar.
Marcia Dessen - planejadora financeira CFP (“Certified Financial
Planner”), autora de “Finanças Pessoais: O Que Fazer com Meu Dinheiro”.
Fonte: coluna jornal FSP