Respirar fundo acalma o cérebro


Nervoso? Ansioso? Respire fundo e devagar. A respiração lenta e controlada, integral à prática do yoga e da meditação e tão presente na psicologia popular, às vezes é menosprezada por quem recebe o conselho para ajudar a se acalmar. Mas um estudo mostra que existe de fato um circuito que liga a frequência da respiração ao nível de alerta do cérebro.

Respirar não é opcional: manter-se vivo requer inspirar e expirar, ciclicamente, do nascimento até a morte, cerca de 550 milhões de vezes em uma vida de 70 anos -sem precisar pensar no assunto. É ao mesmo tempo perturbador e libertador pensar que a função é desempenhada dia sim e dia também, esteja você acordado ou dormindo, por apenas alguns milhares de neurônios no bulbo cerebral, na base da sua cabeça.

No camundongo, uns três mil desses neurônios formam um núcleo chamado jocosamente de complexo pré-Bötzinger (o nome não é homenagem a ninguém, mas uma brincadeira com o fato de tantos outros serem), ou CpB para os íntimos. Da atividade auto-organizada por esses poucos milhares de neurônios surge o ritmo da inspiração, como crianças de mãos dadas brincando de senta-levanta seguindo ordens de ninguém em particular, mas de todos ao mesmo tempo (eu falei que era perturbador).

Dos 3 mil neurônios, 175 têm um papel particular, segundo um estudo americano: ativam o locus coeruleus, nome chique em latim para o "lugar azul" do cérebro devido à abundância de noradrenalina produzida ali, de coloração azulada, e despejada cérebro e medula afora.

É o locus coeruleus que nos deixa atentos e com músculos tensos, prontos para a ação. Quanto mais noradrenalina libera, mais ficamos alertas e crispados. Com atividade demais, o alerta é tanto que começa a ser contraproducente, chegando à angústia e dor muscular. Não é surpresa, a esta altura, descobrir que só adormecemos quando o locus coeruleus é completamente silenciado.

Esses 175 neurônios, portanto, atrelam o nível de alerta cerebral à respiração: qualquer acontecimento que acelere a respiração nos deixa automaticamente mais atentos e alertas, do exercício ao estresse. Ficou ofegante, ficou alerta também.

E é que o inverso também é verdade: respirar lentamente, reduzindo de 12 a 20 para talvez apenas entre cinco e seis o número de inspirações por minuto, é capaz de reduzir ao menos pela

Suzana Herculano-Houzel - neurocientista, professora da UFRJ, autora do livro "Pílulas de Neurociência para uma Vida Melhor" (ed. Sextante)

Fonte: www.suzanaherculanohouzel.com

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