Sair do aluguel, sim ou não?


Avalie se é hora de sair do aluguel e investir em imóvel próprio

O preço dos imóveis caiu nos últimos dois anos, e o mercado está abarrotado de ofertas de unidades novas e usadas para vender. Muita oferta de imóveis, financiamento restrito e pouca gente com dinheiro disponível para comprar, uma combinação perfeita que favorece os compradores e pune os vendedores.

Quem ainda não realizou o sonho da casa própria e mora em casa alugada deve estar se perguntando, dia sim e outro também, se não está na hora de sair do aluguel. Uma pergunta nada fácil de responder. Os preços podem cair um pouco mais ou subir menos que a inflação nos próximos meses. E, muito além do aspecto financeiro, certamente o mais importante (ou relevante), a decisão de sair ou não do aluguel depende de vários fatores e circunstâncias.

NÃO

O valor dos aluguéis nunca esteve tão baixo. Como a oferta de imóveis aumentou muito, os proprietários estão sendo pressionados pelos inquilinos a reduzir ainda mais o já reduzido valor do aluguel. O proprietário faz qualquer negócio para não perder o inquilino. A última coisa que ele quer é um imóvel desocupado. Para ele, representa queda de receita e aumento de despesas, já que passa a pagar condomínio e IPTU.

O inquilino está com a faca e o queijo na mão e tem excelentes condições de negociação. Um imóvel que vale R$ 500 mil pode ser alugado por cerca de R$ 1.500, representando custo de 0,30% ao mês para o inquilino. Maria, por exemplo, aplica o dinheiro que tem no mercado financeiro e ganha cerca de 0,8% ao mês. A diferença de 0,50% fica pra ela e ajuda muito sua meta de acumular uma boa grana para comprar ou não sua própria casa no futuro. Enquanto o mercado estiver pagando esse prêmio, ela adia a decisão e aproveita a oportunidade.

João também prefere pagar aluguel por outras razões. Seu trabalho requer mudanças frequentes, já morou em cinco cidades diferentes. Alugar faz mais sentido para ele. Além disso, não quer se preocupar com despesas de manutenção ou correr o risco de desvalorização do imóvel. "O proprietário que resolva e se preocupe", pensa João.

SIM

Fernanda tem um sonho, quer porque quer ter uma casa para chamar de sua. Pagar aluguel é uma coisa que a deixa muito infeliz. Tem a sensação de estar pagando por uma coisa que nunca será sua.

Seu marido já demonstrou por A mais B que alugar é barato, permite mais mobilidade, que eles não gastam com manutenção, que podem se mudar sempre que quiserem, mas Fernanda sabe bem o que quer e não abre mão de realizar o sonho. Fernanda tem outra preocupação: desconfia de que ela e o marido possam gastar o dinheiro com outras coisas, que também querem, mas são menos importantes que a casa própria.

Para pessoas como Fernanda, decididas a sair do aluguel, recomendo calma. Nada de pressa na hora de comprar um imóvel. É proibido se apaixonar por um deles, você vai acabar pagando mais do que ele vale.

Antes de escolher o imóvel, pense bem sobre com vai pagar por ele. Se você economizou e tem dinheiro para comprar à vista, ótimo. Aproveite para pechinchar bastante e pagar o menor valor possível. Vai financiar? Dê uma boa entrada para diminuir o valor da dívida e assuma um compromisso que caiba no seu bolso. Se não tiver pelo menos 30% do valor do imóvel para dar de entrada, avalie adiar a decisão de compra.

Argumento que conta um grande ponto a favor da decisão de comprar é a possibilidade de usar o dinheiro que está mofando no FGTS. Excelente oportunidade de fazer bom uso desse recurso que te pertence e é tão mal remunerado.

Outra coisa importante: não confunda o imóvel que será sua moradia com investimento. Embora ele possa se valorizar, você não se beneficiará do aumento do preço. Para lucrar, você teria de vender. Se vender, vai morar onde? O preço do imóvel novo, salvo uma rara barganha, estará elevado tanto quanto o do imóvel que você vendeu. Faz sentido falar em investimento quando se compra o imóvel para alugar, e não para morar.

A decisão a ser tomada, nada trivial, é a de pagar pelo uso do imóvel ou pela posse dele. Sabemos que o brasileiro, por tradição e razões culturais, tem preferência pela segunda opção.

Marcia Dessen - planejadora financeira pessoal, diretora do Planejar e autora do livro 'Finanças Pessoais: o que Fazer com Meu Dinheiro'.                                                                                                             

Fonte: coluna jornal FSP

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