Inteligência Artificial: os riscos para os empregos existem, mas são menores do que foi alarmado


Uma previsão feita pela Universidade de Oxford, divulgada em um relatório em 2013, apontava que cerca de 47% dos empregos dos Estados Unidos e 35% do Reino Unido estavam bastante ameaçados e tinham um alto risco de serem automatizados nos 20 anos seguintes. Em outras regiões do mundo o risco era igualmente alto ou até mesmo bem mais alto: o maior risco era nas principais economias emergentes, como a China e a Índia (77% e 69%, respectivamente).

Hoje, em 2018, cinco anos depois, um estudo realizado pela OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico), mostra que bem menos empregos provavelmente serão destruídos pela Inteligência Artificial e pelos robôs.

Os números nos Estados Unidos devem cair para cerca de 10% e no Reino Unido para 12%. Ainda assim, este cenário mostra o quanto devemos estar preparados para essas mudanças que já estão ocorrendo e tendem a ficar cada vez mais constantes.

O que se observa é que as tarefas realizadas por muitos trabalhadores, ainda que não estejam sendo substituídas pelas máquinas estão mudando significativamente. Máquinas diversas de autoatendimento, aspiradores robôs, máquinas de lavar e muitas outras coisas já fazem parte do nosso dia a dia a um bom tempo e substituíram atividades que eram desempenhadas por pessoas.

A mudança é constante e muitas vezes nem notamos, nem damos conta de todo esse processo, mas é preciso estar atento para não ficarmos reféns dessa possibilidade de automação.

Para a OCDE houve um pouco de exagero sobre o impacto real da automação, porque as previsões agrupavam muitos empregos similares numa mesma categoria e, a automação de uma tarefa, não implica necessariamente na automação de todas as atividades do trabalhador.

Por exemplo, pegando a realidade do Brasil, uma diarista ou empregada doméstica, certamente teve diversas das suas atividades impactadas pela automação ao longo dos anos... Máquinas de lavar roupas, lava-louças, aspiradores, etc... Entretanto, diversas outras tarefas ainda continuam sendo executadas sem um impacto direto das máquinas e isso, não implicou na extinção desta profissão. Agora trabalhadores com atividades bem especializadas podem realmente “desaparecer”, perdendo espaço para a automação.

Vou abrir um parêntese aqui para citar um exemplo de algo que talvez já possa ter sido realidade de outras pessoas. Quando eu era criança, na década de 1980, lembro que havia uma senhora (chamada dona Rosa) que trabalhava como lavadeira. Ela pegava as roupas de uma casa, levava e trazia na semana seguinte, lavadas e passadas. E ela carregava uma “trouxa” de roupas na cabeça (era uma verdadeira equilibrista). Logo depois que surgiram as máquinas de lavar, não fazia mais sentido deixar as roupas à cargo de uma lavadeira.

O final esperado é que, infelizmente (reforçado até mesmo pelo baixo nível de instrução),

dona Rosa foi aos poucos perdendo espaço para as máquinas e a aposentadoria (com um baixo valor) foi, com certeza, sua única opção.  

Pensando nos dias de hoje, todo esse cenário de Inteligência Artificial, máquinas e automação, conforme sinaliza o estudo da OCDE, pode dificultar a entrada de muitos jovens no mercado de trabalho. Pois algumas tarefas mais simples, muitas vezes porta de entrada dos jovens nos empregos, têm maior risco de serem automatizadas do que aquelas que são exigem maior nível de experiência.

Daí a necessidade de estarmos atentos a esta situação, sobretudo, quando pensamos nos nossos jovens.  Daí aproveito para fazer um link com outro estudo que é bastante preocupante. De acordo com o relatório The New Work Order, divulgado pela Foundation for Young Australians (FYA), mais de 50% estudantes da Austrália estão sendo formados em profissões que se tornarão obsoletas pelos avanços tecnológicos e automação. A pesquisa mostra que 60% dos jovens entram no mercado de trabalho em profissões que serão “radicalmente afetados pela automação e Inteligência Artificial”, e que pode ocorrer dentro dos próximos 10 a 15 anos. Apesar de dados locais da pesquisa, obviamente que isso é uma realidade mundial.

E o que fez a pesquisa da Oxford de 2013 ter superestimado os dados sobre a automação e extinção de empregos? Segundo a OCDE, alguns pontos podem ter influenciado. Algumas profissões souberam adotar computadores e outros equipamentos para realização de atividades sem, contudo, “matar” os profissionais que incorporaram as máquinas sem grande impacto. Apesar de todo avanço, a tecnologia ainda não é capaz de substituir profissões que demandam muita criatividade e raciocínio complexo.

Tudo isso foi levado em consideração pela OCDE para formulação dos números divulgados na sua pesquisa. Daí a sua previsão é 14% dos empregos estão sob alto risco de automação nos países mais ricos do mundo.  Entretanto, existe um alto risco, maior que 70% de chance de tarefas específicas sejam eliminadas pela automação. Ou seja, ainda que um trabalhado não perca seu emprego, muitas de suas atividades do dia a dia podem ser automatizadas. E o grau em que isso ocorrer pode definir quem perde ou não o emprego.

O estudo ainda revelou que países anglo-saxônicos, nórdicos e a Holanda serão as regiões menos atingidas por esse processo de automação e perdas de empregos. O impacto da Inteligência Artificial ainda não seria significativo nos empregos que exigem altos níveis de educação e habilidade. Entretanto, empregos que exigem baixa qualificação e com tarefas rotineiras, como por exemplo, serviços de limpeza e alguns trabalhos na agricultura tiveram um impacto significativamente maior do que outros processos anteriores de automação.

Apesar de dados menos alarmantes, nada pode ser ignorado.

Os países e os profissionais devem se preparar para o futuro

para que não sejam surpreendidos pela automação, como aconteceu com a dona Rosa...

Inclusive, como a tecnologia se desenvolve de modo exponencial, uma melhoria acelerada na capacidade dos sistemas de Inteligência Artificial, pode automatizar tarefas que hoje consideramos impossíveis. E mesmo sendo algo cruel, as empresas preferirão máquinas que sejam capazes de fazer o nosso trabalho de modo bem mais barato e mais rápido.

Patrick Pedreira - Professor Mestre em Ciência da Computação, doutorando na USP, coordenador de cursos de graduação (Computação) e, acima de tudo, um amante da tecnologia e da docência.

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