O investidor em renda fixa anda desanimado e cheio
de dúvidas. Os rendimentos de José estão em queda e ele se questiona se deve
resgatar e mudar para outra
aplicação que pague mais.
A princípio, não tem nada de errado com seu
investimento, José. O que explica essa queda no rendimento da maioria das
aplicações de renda fixa é a redução da taxa básica de juros. Como grande parte
dos investimentos acompanha a variação da taxa Selic, quando ela cai, o
rendimento das aplicações cai também.
Mas a dúvida de José não é tola, vale conferir se a
rentabilidade relativa à Selic permanece no patamar esperado. E, o mais
importante, se a aplicação oferece
juro real, acima da inflação.
RENTABILIDADE ABSOLUTA
O primeiro número que a gente vê é a rentabilidade
absoluta -por exemplo, 6,7% ou 9,60%. Essa caiu e tende a cair um pouco mais.
Entre agosto de 2015 e outubro de 2016, durante 15 meses, a Selic permaneceu em
14,25% ao ano, e José, satisfeito, recebia rendimento bruto de 1,1% ao mês.
Dois cortes tímidos de 0,25 ponto percentual pelo Banco Central reduziram a
Selic a 13,75% a partir de dezembro do ano passado. Queda pequena que
José nem percebeu.
Depois, dois cortes consecutivos de 0,75, seguidos
de dois cortes de 1 ponto, derrubam rapidamente a Selic para 10,25% ao ano. Em
menos de cinco meses José se surpreende
com uma queda de 3,5 pontos percentuais ao ano, ou seja, o rendimento bruto
caiu para 0,80% ao mês. Depois de descontados os custos operacionais e o IR, o
rendimento líquido se aproxima do que
pagam os depósitos em poupança.
RENTABILIDADE RELATIVA
Embora lamente a redução no montante dos
rendimentos e antes de achar que tem alguma coisa errada, é bom verificar se a
rentabilidade relativa à taxa Selic ou à taxa DI permanece inalterada. Os
extratos mensais enviados pelas instituições financeiras trazem essa
informação. Se a rentabilidade bruta
(antes do IR) do fundo em que ele investe, por exemplo, pagava 95% da taxa DI e
continua pagando 95% da nova taxa DI, tudo bem. Comprova que a redução na
rentabilidade se justifica em razão da redução na taxa de juros básica da
economia.
Traduzindo a rentabilidade relativa de 95% em
números: rendimento de 13,30% com a Selic a 14% e 9,70% com a Selic a 10,25%. O
rendimento caiu em termos absolutos, mas se manteve inalterado em termos
relativos.
RENTABILIDADE REAL
Resta conferir a rentabilidade real, quanto se
ganha acima da inflação. Esse é o fator-chave que acrescenta (ou não) riqueza
ao patrimônio de José. Só ganhos acima da inflação ampliam o poder de compra.
Em dezembro de 2015, a Selic era 14,25% ao ano, e o
IPCA acumulado em 12 meses, 10,67%. Assim, a rentabilidade real (bruta) era de
3,23% ao ano. Em dezembro de 2016, o IPCA acumulado de 6,29% e a Selic em
13,75% colocavam no bolso
de José um ganho real de 7%.
Junho de 2017, Selic de 10,25% e IPCA acumulado em
12 meses (até maio) de 3,60%, mantém o juro real no generoso patamar de 6,4% ao
ano! José, seu ganho em termos reais está ótimo. Resumindo, a rentabilidade
absoluta diminuiu,
mas a real está muito boa.
CUSTOS
Agora um ponto de atenção que merece e deve ser
observado por José e investidores em geral. E esse, diferentemente da taxa de
juros e da inflação sobre os quais não temos nenhuma influência, é um fator que
podemos gerenciar. Refiro-me à taxa de administração, ou spread, ou corretagem,
ou qualquer outro nome que tenha a despesa, paga à instituição financeira, e
reduz
a rentabilidade do investidor.
Pagar 2% ao ano de taxa de administração, por
exemplo, quando a Selic era 14%, é uma coisa. Não é barato, mas dá pra encarar.
Continuar pagando os mesmos 2% com a Selic a 10% ou 9%, complicado. Vale a pena
pesquisar alternativa com custo menor, Tesouro Direto, por exemplo. Antes,
tente negociar com a instituição financeira. Juntos, vocês hão de encontrar uma
alternativa
que seja boa para ambas as partes.
Não falei sobre a caderneta de poupança, não é? Na
semana que vem a gente conversa sobre ela
Marcia Dessen - planejadora financeira
pessoal, diretora do Planejar e autora do livro 'Finanças Pessoais: o que Fazer
com Meu Dinheiro'.
Fonte: coluna jornal FSP