Quem
investe coletivamente compartilha ganhos e perdas no momento em que acontecem
Os ativos negociados no mercado perderam valor diante
das notícias recentes. Os preços estão baixos, e, enquanto muitos fogem em
busca de mais segurança, você investe, decidido a correr o risco, acreditando
na recuperação do mercado.
Sua expectativa se confirma, os juros caem, a Bolsa
atrai investidores e os preços sobem! Você quer dividir os lucros com quem
correu menos risco e investiu quando o mercado já estava em franca recuperação?
É evidente que não.
O mesmo raciocínio se aplica quando o movimento inverso
acontece. Quem investe na alta, com rentabilidade passada linda, terá de arcar
com eventuais prejuízos caso o pior cenário aconteça.
Principais
erros dos investidores
Estudo
do Itaú Asset Management aponta equívocos comuns de quem vai investir
Assim é a vida de quem investe coletivamente, em fundos
de investimento, condomínio sujeito a regras que se aplicam a todos os
cotistas. O que vale para um vale para todos. Assim como acontece nos
condomínios residenciais.
O patrimônio de um fundo de investimento pertence a
centenas, milhares de cotistas. É representado pelos ativos financeiros que
compõem a carteira do fundo, constituída pelo gestor do fundo, conforme
regulamento. O gestor equivale ao síndico de um condomínio residencial,
responsável pela gestão dos recursos arrecadados.
A comparação para por aqui. Em um condomínio
residencial, somente as áreas comuns são compartilhadas e cada um é o único
dono da sua unidade, comprada por um preço que ele negociou individualmente e
que pode ser mantida ou vendida quando o proprietário quiser, pelo preço que
ele conseguir. O lucro (ou prejuízo) auferido por um condômino na venda da sua
unidade não é compartilhado com os demais.
Em um fundo de investimento, 100% do patrimônio pertence
a todos, sua porta de entrada e de saída está sempre aberta, permitindo que
cotas sejam compradas e vendidas todos os dias. Para que essa negociação seja
feita pelo preço justo, cada ativo da carteira é contabilizado, diariamente,
pelo valor de mercado.
Quando a “marcação a mercado” apura valorização dos
ativos, o valor da cota sobe e todo o mundo fica feliz. Entretanto, quando
ocorre uma desvalorização nos ativos da carteira, o valor da cota cai, o investidor
não gosta e muitas vezes reage precipitadamente, resgatando cotas que pretendia
manter.
O procedimento incomoda, mas existe uma razão
inquestionável para ser feito todos os dias. Quando a marcação deixa de
registrar uma desvalorização, por exemplo, a cota fica falsamente elevada,
prejudicando quem compra cotas naquele dia (investidor paga mais do que vale),
favorecendo quem resgata e recebe mais dinheiro do que deveria.
O inverso é verdade. Quando o administrador do fundo
omite uma valorização e mantém o valor da cota abaixo do verdadeiro, ganha quem
compra cotas naquele dia (investidor paga menos do que vale) e perde quem
resgata cotas naquele dia e recebe menos do que tem direito.
A marcação a mercado é exigida pela CVM, órgão regulador
dos fundos, e deve ser feita para evitar a transferência de riqueza de um
cotista para outro. Apesar do desassossego que provoca, ela assegura que os
seus ganhos (ou perdas) são seus, de mais ninguém.
O mesmo conceito se aplica ao Tesouro Direto, que,
embora não seja um condomínio, permite a compra e a venda diária dos títulos
públicos, pelo valor de mercado. Quem se incomoda com a flutuação de preços
pode esperar o vencimento do título e receber exatamente o que contratou no dia
da compra, opção não disponível para cotistas de fundos, cuja cota não tem
vencimento.
Marcia Dessen - planejadora financeira CFP (“Certified Financial
Planner”), autora de “Finanças Pessoais: O Que Fazer com Meu Dinheiro”.
Fonte: coluna jornal FSP