Integração de dados da saúde
deve vir em 2028
O Brasil avança em um projeto crucial para a transformação
digital na área da saúde, o open health, inspirado no open banking, que promete
revolucionar o cuidado com o paciente ao centralizar os dados médicos em um
prontuário unificado, integrar informações entre os agentes do setor, facilitar
a portabilidade dos planos de saúde e reduzir desperdícios na casa dos bilhões
de reais, que poderão ser realocados em áreas da maior carência.
A
Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) informou que o Grupo de Trabalho
(GT) instituído em 2022 encerrou as discussões iniciais e elaborou um relatório
que prioriza a transparência dos dados abertos e a melhoria da experiência do
usuário.
O GT chegou ao entendimento de que o compartilhamento dos dados
pessoais de saúde deve ser conduzido no âmbito do Comitê Gestor de Saúde
Digital e no Conselho Intergestores Tripartite, de acordo com as diretrizes da
Política Nacional de Informação e Informática em Saúde e do Programa SUS
Digital, do governo federal.
“Com
isso, o governo elaborou uma Estratégia de Saúde Digital, dentro do SUS
Digital, cujo plano de ação prevê a integração dos dados até 2028”, diz a ANS.
A agência afirma também que está aprimorando seu guia de planos de saúde,
prevendo o compartilhamento dos dados administrativos dos beneficiários para
agilizar a contratação de planos de saúde e a troca de plano por portabilidade
de carências.
A
continuidade desse projeto, no entanto, depende do envio de recursos do
Ministério da Saúde.
Mesmo com o projeto em andamento, serão necessários
investimentos significativos em infraestrutura tecnológica, incluindo o
desenvolvimento de prontuários eletrônicos interoperáveis, sistemas robustos de
segurança de dados e a garantia de acesso à tecnologia de comunicação, como o
5G, especialmente em áreas remotas do país.
A
regulamentação do uso das informações pessoais, especialmente dados pessoais
sensíveis sobre saúde e utilização de serviços médicos e hospitalares, embute
um grande desafio: o de respeitar os limites definidos na Lei Geral de Proteção
de Dados (LGPD).
Para a advogada Bruna Fabiane da Silva, sócia da DeServ
Academy, a centralização dessas informações é bastante complexa, sobretudo para
estar em conformidade com a LGPD que, embora esteja há mais de três anos em
vigor, no segmento da saúde no Brasil ainda está distante do que a legislação
exige.
Larissa
Pigão, advogada especializada em direito digital e proteção de dados pessoais,
diz que a LGPD estabelece diretrizes rigorosas para o tratamento de dados
sensíveis, como o histórico completo de saúde dos pacientes.
Isso inclui a
necessidade de consentimento explícito para o uso compartilhado desses dados,
medidas de segurança robustas para proteção contra acesso não autorizado e
restrições ao uso dessas informações para vantagens econômicas sem o
consentimento do paciente.
“O
sucesso do open health também está intrinsecamente ligado à colaboração entre
instituições públicas e privadas de saúde do país.
Essa colaboração exige uma
mudança de cultura e mentalidade, superando barreiras históricas e incentivando
a cooperação entre os diversos atores do setor de saúde”, ressalta Pigão.
O
diretor de inteligência para saúde da Neurotech, Marco Antunes, afirma que vê a
implementação total do open health em dez anos.
“Não é no curto prazo, existem
muitos agentes envolvidos, farmácias, muitas discussões a serem realizadas, mas
serão inúmeras vantagens, pois não se faz política pública de saúde de
qualidade sem dados estruturados e qualificados”, diz Antunes.
Fonte: Valor
Econômico