Kate Torgersen, de Berkeley,
Califórnia, tem um filho de três anos, Jackson, e gêmeas de oito meses de
idade. Ela criou uma conta de e-mail para seu filho quando ele nasceu para que
pudesse lhe enviar e-mails com fatos e relatos sobre ele, formando uma espécie
de "livro do bebê" digital.
"Nunca passou por nossa
cabeça criar uma página no Facebook", disse. "Nos pareceu
inapropriado. Queríamos ter algo íntimo e que também fosse conveniente. Enviar
um e-mail durante um dia de trabalho é muito mais fácil do que fazer um grande
'livro do bebê'." Alguns pais vão mais longe, criando URLs, páginas no
About.me, feeds no Instagram, nomes no Twitter e contas no Tumblr para seus
bebês, tudo isso horas depois do nascimento.
Talvez seja precipitado
descrever esses comportamentos como uma tendência, mas algo é certo: surgiram
polêmicas. Deveríamos postar fotos de nossos filhos em sites que podem ser
vistos por qualquer pessoa ou mesmo em perfis pessoais? Se você cria contas no
Facebook e endereços de e-mail para seus filhos, está iniciando um registro de
dados para eles antes de eles terem idade para saber do que se trata? "As
crianças não têm voz no assunto. Acho que isso cria uma dúvida ética
interessante", comentou Kaveri Subrahmanyam, do Centro Infantil de Mídia
Digital da Universidade da Califórnia, em Los Angeles.
Ela explicou que existem
poucas pesquisas sobre como as crianças irão reagir quando descobrirem que já
possuem um farto histórico digital, mas que os pais devem tomar cuidado com o
conteúdo e a quantidade do que postam.
É difícil saber como tratar a
identidade digital de seu filho. Para a maioria dos pais internautas, enviar
e-mails à criança é a opção mais popular, porque é relativamente particular e
permite que familiares e amigos também enviem mensagens. Além disso, a criação
da conta garante um nome de usuário para a criança.
Minh Uong/The New York
Times
Pais estão criando contas de e-mail e social media
para os filhos ainda bebês
Também é possível registrar
seus filhos para feeds do Twitter ou criar URLs para eles que não sejam
baseados em seus nomes reais -pode ser uma fusão dos nomes do pai e da mãe, por
exemplo, para ocultar a identidade da criança. Postar no Facebook apenas para
seus amigos também é uma maneira relativamente privada de compartilhar.
Cada pai e mãe precisa
decidir como tratar a identidade digital de seu filho, mas é importante começar
a pensar nisso desde cedo. "É o início de uma conversa", diz Liz
Gumbinner, editora-chefe do site coolmomtech.com. "Os pais têm medo de que
seus filhos fiquem on-line cedo demais. Mas sinto que isso é geracional, porque
a geração atual é uma que vai crescer sem ter qualquer outra opção."
A maioria das crianças
nascidas nos últimos dez anos já terá estado on-line centenas ou mesmo milhares
de vezes quando chegar à idade de saber quem é ou de começar a usar o
computador.
Em álbuns do Facebook, no
Instagram, no Twitter, mesmo em seu blog ou conta de Twitter próprios, a
criança moderna, filha de pais versados no uso da web, já possui uma história
digital farta muito antes de começar a administrá-la por conta própria.
Alguns pais não estão
dispostos a mergulhar seus filhos no mundo digital. Lauren, de Berkeley, mãe de
dois filhos, é consultora de marketing em mídias digitais e pediu para que seu
sobrenome não fosse citado. Ela disse que entende a ideia de garantir nomes de
usuário iguais para seus filhos em diferentes sites, porque essa é "a
tática para ter uma marca consistente". Mas acrescentou: "Como mãe,
cabe a mim proteger meus filhos de maneira geral. Cabe a mim proteger a
privacidade deles.
Molly Wood –
jornalista no segmento de tecnologia do New York Times
Fonte:
suplemento NYT do jornal Folha de São Paulo