Tecnologia para o desenvolvimento


Tecnologia para o desenvolvimento

Às vésperas da eleição, Brasil continua sem prioridades no campo da tecnologia.

Superadas as eleições, o Brasil precisa urgentemente definir uma agenda de desenvolvimento que considere a questão tecnológica

Nenhum país é capaz de se desenvolver no mundo de hoje sem ter como eixo central essa questão.

Outros países perceberam isso muito antes de nós, especialmente na Ásia. Japão, Coreia do Sul e China são exemplos notórios.

á no final da década de 1970, esses países enxergaram que tecnologia deveria ser vista como infraestrutura. 

Não apenas como um setor específico da economia mas como fundamento da eficiência e inovação em todos os demais setores econômicos e sociais. 

Essa visão mudou tudo. O resultado está aí para ser conferido.

No Brasil, infelizmente as políticas tecnológicas são definidas por uma agenda reativa. 

Na semana passada, um conselheiro da Anatel, ao tratar da agenda tecnológica futura do país, propôs regulamentar pesadamente as aplicações que rodam sobre a internet dizendo a seguinte frase: "Atualmente as [aplicações de internet] são os vilões".

Infelizmente, nos últimos anos o Brasil abandonou a pergunta "o que fazer?" em prol da pergunta "quem é o culpado?".

O país especializou-se em buscar culpados por suas mazelas. Como se a definição e a punição desses culpados levasse automaticamente a um futuro brilhante. 

Não deu certo. 

Está na hora de o país voltar a perguntar "o que fazer?". E, uma vez que decidir, implementar a decisão.

Em tecnologia, isso se traduz em agendas propositivas e estruturantes, não na busca de "vilões". Gosto sempre de dizer que a tecnologia traz desafios e oportunidades. 

Os desafios são inevitáveis, gratuitos.

Eles vão acontecer de qualquer forma. Já as oportunidades precisam de muito planejamento, esforço e investimento para serem concretizadas. 

E é nesse aspecto que o país está em falta. Ficamos hipnotizados pelos desafios e nos esquecemos das oportunidades.

As oportunidades que o país pode abraçar são inúmeras. 

A começar pela chamada Indústria e Agricultura 4.0. 

Em um momento em que passamos por uma onda de desindustrialização e fechamento de unidades industriais, a conjunção de tecnologia e fabricação pode abrir caminhos e ajudar a reverter essa tendência. 

A infraestrutura para isso já chegou, que é o 5G no modelo "puro-sangue" adotado pelo país.

Na agricultura, é a mesma coisa. O país já é competitivo nessa área. Se adicionar uma camada de tecnologia à produção agrícola, adotando práticas da chamada "agricultura de precisão", pode dar saltos ainda maiores.

Além disso, o país precisa apostar em tecnologias verdes. Há hoje um dilema entre explorar as reservas fósseis e caminhar no sentido de fontes limpas.

Esse dilema pode ser superado, como demonstrou o concorrido evento Brazil Climate Summit, realizado na Universidade Columbia, em Nova York, nos últimos três dias. 

Tomando decisões tecnológicas inteligentes, é possível partir para um modelo de liderança em sustentabilidade, sem perder em eficiência e sem deixar de aproveitar os recursos naturais do país.

O país precisa escolher. Como diz o economista guineense Carlos Lopes: "Os países só são bem-sucedidos quando têm muito poucas prioridades". 

Às vésperas das eleições, o Brasil continua sem prioridades no campo da tecnologia. Pensando só nos desafios, não nas oportunidades.

RONALDO LEMOS - advogado, diretor do Instituto de Tecnologia e Sociedade do Rio de Janeiro.

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