A resposta é
não. O discurso oficial da equipe do presidente Michel Temer não está exposto
no texto atual da reforma da Previdência, pois não inclui uma proposta para
endurecer as regras de aposentadoria de privilegiados como políticos e
militares, por exemplo. Quem sofrerá realmente na pele, as mudanças propostas
como a elevação da idade mínima para 65 anos para os homens e 62 anos para as
mulheres para dar entrada na aposentadoria, além de o mínimo de 40 anos de
contribuição para conseguir o benefício integral, será o trabalhador segurado
do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) e algumas categorias de
servidores públicos.
E exatamente
pelo discurso não bater com a realidade, o Governo Federal já sofreu um duro
golpe em ter que ’empurrar’ a votação na Câmara dos Deputados para 2018. Apesar
de manter uma postura otimista, a equipe e os aliados de Temer não conseguiram
garantir o número necessário de votos para garantir que a proposta de reforma
fosse aprovada no Plenário da Câmara.
E, certamente,
terá dificuldades em aprovar a proposta em ano eleitoral. Isso porque em
entrevistas recentes, lideranças de partidos da base aliada avaliam que o
adiamento da votação da reforma da Previdência para fevereiro de 2018 reduz as
chances de aprovação da proposta. A avaliação é de que a proximidade com as
eleições de outubro do próximo ano aumenta a resistência dos parlamentares, que
temem desgaste eleitoral.
A rejeição
atual da proposta da reforma, apesar de ser mais política do que social,
favorece para que a sociedade participe mais do debate e que mudanças no texto
da reforma sejam realizadas para combater as injustiças e também diminuir
verdadeiramente os privilégios.
Coaduno com a
opinião do senador Paulo Paim (PT) que disse que o governo mente quando afirma,
em propaganda sobre a reforma da Previdência veiculada nos meios de
comunicação, que as mudanças propostas não prejudicarão os trabalhadores. Isso
porque o primeiro efeito da reforma é extinguir a aposentadoria por tempo de
serviço e os homens terão de trabalhar cinco anos a mais e as mulheres, sete
anos.
Vale ressaltar
que além de não acabar com os privilégios, o Governo Federal também defende
três mentiras: que a aposentadoria rural não irá mudar, que a aposentadoria
especial não terá nenhuma alteração e que a idade mínima será de no máximo 65
anos para homens e 62 anos para mulheres.
Bem, a
aposentadoria rural, pelo texto atual passará a ter contribuição, ou seja,
diferente de hoje que não é necessário. Nas propagandas também ouvimos que a
aposentadoria especial não vai se alterar, mas vai, pois para o servidor
necessitará que demonstre o dano à saúde (não basta a mera exposição). E a
idade mínima pode aumentar, desde que a expectativa de vida aumente.
Além disso, o
Governo Federal não apresentou também nenhuma proposta concreta para cobrar os
maiores devedores da Previdência no Brasil: as grandes empresas. Elas têm,
segundo levantamento da CPI da Previdência Social do Senado Federal, dívidas de
mais R$ 1 trilhão, com valores atualizados pela taxa Selic. E são esses mesmos
grandes empresários devedores que clamam e defendem as mudanças nas regras de
aposentadoria no país.
Ou seja, o
privilégio das grandes empresas também não está sendo combatido e nem existe
uma proposta real para que essas dívidas sejam pagas num futuro breve.
Portanto, o
texto atual da reforma só afasta o trabalhador da aposentadoria, sem uma
contrapartida justa. E também não combate os privilégios de militares e
políticos e também das grandes empresas quando o assunto é Previdência Social.
Murilo
Aith - advogado especialista em Direito
Previdenciário e sócio do escritório Aith, Badari e Luchin Advogados