Moeda
estrangeira caiu para menos de R$ 5 após bater os R$ 5,88 em maio do ano
passado.
O que parecia impossível há alguns meses está ocorrendo: depois de
saltar 30% e atingir a máxima de R$ 5,88 em maio do ano passado, o dólar-1,17% começa a
cair perante o real.
A moeda estrangeira atingiu a marca de R$ 4,93 no fechamento de
sexta-feira (25). Foi a quarta vez que a divisa encerrou o dia a menos de R$ 5
no ano – todas durante a última semana.
Com isso, o real saiu do posto de sexta moeda que mais
se desvalorizou em 2020 frente ao dólar (-22,4%), para a quarta moeda que mais
se valorizou em 2021, segundo a agência de classificação de risco Austin
Rating.
No total, a alta é de 3,6% no acumulado do ano, passando na frente de
outras divisas fortes, como o Dólar Canadense (3,2%) e a Libra Esterlina
(2,3%).
A pesquisa leva em conta os dados disponíveis até o fechamento da
última terça-feira (22).
Segundo Rafael Bombini, especialista em Renda Variável da
EWZ Capital, o fortalecimento do real frente o dólar acontece em função do
ciclo de alta dos juros.
Após oito meses na casa dos 2% ao ano, entre agosto de
2020 e março de 2021, o Banco Central passou a aumentar consecutivamente a
Selic em 0,75 ponto percentual nas três reuniões subsequentes.
Atualmente
a taxa está 4,25% ao ano,
mais atrativa ao investidor estrangeiro, apesar de ainda em um patamar
historicamente baixo para o País. “Quando o Copom sobe juros, é uma forma de
frear a alta do dólar.
Fazendo isso, ele torna o País mais atrativo e traz mais
segurança para o investidor estrangeiro, que começa a se desfazer das suas
proteções em dólar e comprar os ativos”, afirma Bombini.
Antes mesmo de subir a Selic, o BC já concentrava esforços para segurar
a alta da moeda norte-americana fazendo o swap cambial. “Significa que a autoridade
monetária vende as reservas de dólar para segurar a alta da moeda.
Quando
estava em R$ 5,80, há uns dois meses, começaram a fazer isso”, explica Bombini.
“Agora já pararam porque só a alta dos juros, a retomada econômica, vacinação
avançando, já alivia o câmbio.”
E como
ficam as ações?
A Bolsa, a renda fixa e o mercado
imobiliário são afetados direta ou indiretamente pelas quedas no dólar.
As exportadoras da
B3, por exemplo, tendem a ser impactadas negativamente por essa conjuntura, já
que possuem receitas na moeda estrangeira e custos de produção em reais.
É o caso de
companhias relacionadas a commodities e frigoríficos. “Apesar disso, diversas
empresas buscam se proteger dessa variação cambial por meio das operações de
hedge (operações financeiras que buscam reduzir o risco de variações de
preços)”, afirma Vieira.
Apesar de sofrerem mais com o dólar em
queda, o atual superciclo das commodities tende
a continuar jogando os papéis dessas exportadoras pra cima. Isso acontece
porque países do mundo todo estão iniciando suas retomadas econômicas, o que
acelera a demanda por insumos, como minério de ferro, petróleo e grãos, por
exemplo.
Por outro lado,
a analista da Rico Investimentos Paula Zogbi ressalta que as companhias que
mais se beneficiam da queda do dólar são aqueles que possuem altas dívidas no
ativo. “Quedas no dólar são positivas para essas empresas que possuem dívidas
na moeda ou que fazem muitas importações”, explica.
Já quando o
assunto são fundos de investimentos, o segmento diretamente impactado pelo
dólar são os cambiais. A maioria acompanha de perto o desce e sobe do dólar,
portanto registrarão perdas com a desvalorização.
“Entretanto,
acreditamos que o dólar é uma moeda forte globalmente, sendo interessante
manter investimentos nesse tipo de ativo. Porém, investir diretamente na moeda
(por meio dos fundos cambiais) não é a única opção para o investidor.
Dentro
deste aspecto, podemos efetuar alocações em ativos atrelados ao dólar, como,
por exemplo, investir nas companhias brasileiras exportadoras”, explica Vieira.
Além disso,
segundo Vieira, o ETF IVVB11, cujo objetivo é acompanhar a movimentação do
índice acionário S&P 500, deve também ser afetado de forma negativa, já que
possui forte correlação com a moeda norte-americana.
BDRs são
oportunidades
Fora os papéis convencionais, uma outra
classe de ativos que deve ficar no radar do investidor com a queda do dólar são
os Brazilian Depositary Receipts (BDRs), os
recibos de empresas estrangeiras negociados na B3.
É importante lembrar que
esse investimento não possui proteção contra a variação do câmbio e se
beneficia com a alta do dólar.
Logo, os BDRs
estariam mais baratos para o investidor hoje, com o dólar a menos de R$ 5, do
que estavam no ano passado, com o dólar próximo a R$ 6. “Antes estava muito
difícil começarmos a olhar para esses ativos.
Agora, com a queda, já começa a
ficar interessante, pensando que o dólar deve voltar a subir no fim do ano, com
a proximidade das eleições presidenciais”, afirma Bombini.
Segundo o
especialista da EWZ Capital, um nível saudável de dólar para o Brasil fica
entre R$ 4,80 a R$ 5. “O Paulo Guedes afirmou que acredita em dólar a R$ 4, mas
eu já acho muita ousadia por conta do ano em que estamos vivendo”, afirma.
Renda
fixa e fundos mobiliários (FIIs)
A renda fixa e os fundos imobiliários são
afetados de maneira mais indireta.
O cenário de queda do dólar deriva da alta
dos juros, que tornam mais atrativos os ativos conservadores atrelados à
Selic.“Investir na dívida brasileira está fazendo bastante sentido agora.
Talvez seja até isso um dos motivos que sustentam essa queda do dólar”, afirma
Zogbi.
Em relação aos
FIIs, os fundos mais sensíveis ao dólar são aqueles que investem em terrenos
para construir e revender, porque a queda do dólar podem diminuir os preços dos
materiais de construção.
Ainda assim, o impacto é diluído pela preocupação com
uma possível tributação de dividendos.
“Muitos
investidores de FIIs estão nesse tipo de ativo por conta dos dividendos e podem
ser muito prejudicados”, afirma Zogbi. “Então o efeito da queda do dólar tende
a ser muito secundário e não fazer muito preço.”
JENNE
ANDRADE – jornalista O Estado de São Paulo Fonte: coluna jornal Estadão