Digamos que os computadores venham a assumir a maior parte dos
postos de trabalho. Isso parece improvável no momento, e cientistas da
computação e economistas oferecem ideias extremamente variadas sobre até que
ponto a automação afetará o emprego.
Mas imagine que, dentro de duas ou três décadas, a força de
trabalho do mundo seja composta de robôs.
Nesse futuro, a maioria dos trabalhadores braçais terá sido
substituída por autômatos. Caminhoneiros, entregadores e pilotos de avião
seriam trocados por veículos que fazem tudo. Médicos, advogados e executivos
veriam seus contingentes profissionais encolherem por causa de algoritmos
charmosos e atraentes, que sabem tudo.
Como funcionará a sociedade depois que a humanidade se tornar
redundante?
Há décadas os tecnólogos e economistas se debruçam sobre isso,
mas, nos últimos anos, uma ideia tem atraído um enorme interesse, especialmente
entre empreendedores de risco.
Seu plano é conhecido como “renda básica universal”, ou RBU, e
diz o seguinte: à medida que os empregos minguarem devido à disseminação da
inteligência artificial, por que não pagar um salário a todo mundo?
Imagine que o governo destine a cada adulto o suficiente para
custear moradia, alimentação, saúde e outras necessidades básicas.
A RBU teria como objetivo atenuar a perda de empregos causada
pelo progresso tecnológico, mas não se limitaria a isso.
Os partidários da RBU argumentam que a inteligência das máquinas
seria, ao invés de uma catástrofe ceifadora de empregos, uma dádiva para a
humanidade.
Eles dizem que a inteligência das máquinas produziria tamanho
excedente econômico que poderíamos coletivamente nos dar ao luxo de liberar
grande parte da humanidade do trabalho e do sofrimento.
Os pensadores mais idealistas veem o plano como uma forma de
promover um futuro quase utópico. À medida que os computadores executassem mais
trabalhos, as pessoas ficariam livres para se tornar artistas, acadêmicos,
empresários ou a se dedicar às suas paixões.
“Estamos falando de divorciar as necessidades básicas da
necessidade de trabalhar”, disse Albert Wenger, investidor de risco da Union
Square Ventures, empresa que propõe a RBU.
Sam Altman, presidente da incubadora de tecnologia Y Combinator,
financia pesquisas destinadas a responder a algumas das perguntas mais básicas
sobre a vida sob a RBU. São desde questões práticas —quanto custaria, se seria
acessível — até questionamentos mais profundos, relativos à motivação e ao
propósito das pessoas numa era que poderia ser chamada de “pós-trabalho”.
Um cínico poderia ver o interesse dos capitalistas de risco pela
RBU como uma forma de eles se redimirem da sua cumplicidade com tecnologias que
podem levar a mudanças permanentes na economia global.
No entanto, muitos executivos do setor tecnológico interessados
na RBU revelam sinceridade e sofisticação a respeito dessa ideia. Eles não veem
a RBU apenas como uma defesa da ordem social vigente. Em vez disso, enxergam a
automação e a RBU como o caminho mais otimista para um progresso social mais
amplo.
A RBU, no entanto, tem esbarrado em questões práticas muito básicas:
quanto dinheiro dar? Os países terão condições de pagar?
Os proponentes dizem que essas questões serão respondidas pela
pesquisa.
Por enquanto, argumentam que a proposta será factível se houver
alterações das políticas tributárias e sociais e se for levada em conta a
redução do custo de vida básico graças aos avanços tecnológicos em saúde e
energia.
“Acho um desperdício um ser humano passar 20 anos da sua vida
dirigindo um caminhão para cima e para baixo”, disse Wenger.
“Não é a isso que aspiramos — é um mau uso do cérebro —, e a
automação e a renda básica podem nos libertar para fazer coisas mais alinhadas
com o que significa ser humano.”
Alguns economistas e tecnólogos acreditam que robôs irão
substituir a maioria dos humanos no mercado de trabalho
Farhad Manjoo -jornalista e autor, colunista de tecnologia. Do New York
Times.