O
bebê acordou de madrugada com febre. O que fez a mãe? Ligou para o pediatra,
enviou mensagens instantâneas pelo celular para ele e não sossegou enquanto não
foi atendida. O filho, pequeno, comeu algo pela primeira vez e vomitou, fez
cocô de cor estranha. O pediatra foi acionado imediatamente.
O
filho está doente, em tratamento por causa de uma infecção nada grave. Um dia
após o início da medicação, a criança não melhorou. A mãe quis falar com o
pediatra a qualquer custo, mesmo tendo sido bem orientada na consulta. E ela
não desistiu até ouvir a voz do profissional. Não é à toa que o pediatra já foi
chamado de calmante de mãe!
A
vida dos pediatras não está fácil, tanto que tem diminuído a procura por essa
especialidade. Há o problema da baixa remuneração pois, afinal, é uma minoria
que consegue lotar os consultórios com clientes particulares, assim como é uma
minoria quem consegue arcar com o custo das consultas privadas. O valor da
consulta paga pelos planos de saúde sabemos que é bem baixo. Mas o estresse provocado
nos médicos pela ansiedade das mães tem sido fator importante na diminuição do
interesse pela pediatria.
Dá
para entender esse fenômeno se pensarmos no conceito de medicalização da vida.
Aprendemos que todo tipo de sofrimento –inclusive os inevitáveis– pode ser
eliminado rapidamente porque temos explicações biológicas e tratamentos
medicamentosos para tudo. E queremos que eles tenham eficácia imediata.
As
mães toleram pouco, por exemplo, o choro do filho motivado pela cólica nos
primeiros meses de vida. Não importa que o pediatra já tenha explicado que isso
ocorre com a maioria dos bebês devido à imaturidade fisiológica do organismo do
recém-nascido. Trata-se de um período de adaptação, portanto. Mas muitas mães
acham que pode ser algo mais grave, ou que deve ter algum remédio para eliminar
essa cólica.
Acalmar
o bebê, aconchegá-lo no próprio corpo e outras atitudes desse tipo costumam
funcionar para muitos. O problema é que a mãe sofre mais do que o bebê e, por
isso, sente que PRECISA falar com o médico. O que está em jogo, portanto, é a
ansiedade da mãe, mais do que o sofrimento do filho.
É
esse mesmo conceito da medicalização da vida que também colabora para que as
jovens mães ouçam menos os conselhos das avós de seus filhos, que poderiam, com
sua experiência, aquietá-las. Mas, numa época em que tudo o que não é novo é
considerado ultrapassado, muitas avós foram deixadas de lado. Ouço, com muita
regularidade, mães dizerem que orientam suas próprias mães sobre como elas
devem agir com os netos. Invertemos a equação: agora, as jovens mães é que se
colocam no lugar de aconselhar as avós, em vez de procurar ajuda com elas. Não
é espantoso esse fenômeno?
Conversei
com alguns pediatras e todos eles afirmaram que mais da metade dos telefonemas
que recebem são desnecessários, se considerada a saúde da criança; eles
disseram, também, que a ansiedade das mães tem atrapalhado a relação com a
família. Não é incomum que algumas mães cheguem ao consultório exigindo, de
modo grosseiro, atendimento imediato. Isso não é bom para a saúde de nenhum dos
envolvidos nessa relação!
Vamos
baixar esse nível de ansiedade? Como sempre, pelo bem das crianças.
Rosely Sayão - psicóloga e consultora em educação, fala
sobre as principais dificuldades vividas pela família e pela escola no ato de
educar e dialoga sobre o dia a dia dessa relação.